O Santander modificou sua estratégia para atender o público não bancarizado na América Latina, substituindo a carteira Superdigital no México e encerrando suas operações no Chile, confirmou o banco à iupana.
A Superdigital faz parte do esforço do grupo financeiro espanhol para alcançar digitalmente setores de baixa renda, não bancarizados ou sub-bancarizados. Foi apresentada em 2017 pelo Brasil com a promessa de expansão para Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru e México, onde, inclusive, passaram — e aprovaram — o longo processo para obter licença de fintech.
Porém, em 2024, a estratégia da plataforma deu uma guinada. Além de fechamentos e substituições, os lançamentos na Colômbia e no Peru não foram oficializados. O banco sustenta que isso é motivado pela rápida evolução — e concorrência — nos mercados regionais, o que o obrigou a apresentar produtos mais ágeis para este segmento, ao mesmo tempo em que também prepara o lançamento do seu banco digital, Openbank.
Questionada se a oferta da carteira foi encerrada no México, visto que o aplicativo não está disponível para download, a entidade negou. Porém, reconheceu que mudou a aposta.
“Não, o mercado digital é uma competição constante para melhorar, por isso, temos agora a conta Débito LikeU, no lugar da ‘Superdigital’, que tem menos telas, um processo de abertura mais eficiente e uma oferta mais robusta”, explicou Ismael Velasco, diretor de produtos e aquisição de clientes do Santander México, em resposta por escrito à iupana.
Em 2021, informamos que a Superdigital obteve sua licença e que o início das operações estava próximo; embora isso não tenha acontecido.
Dentro da equipe há “incerteza” se a licença será vendida a alguém de fora ou absorvida pela entidade, disse uma fonte com conhecimento e ligação ao assunto que pediu anonimato.
O que fica claro é que o banco decidiu optar pelo Débito LikeU, produto que se agrega ao seu catálogo e que utiliza sua licença bancária: mais robusto e escalável em relação ao aval da carteira digital.
A Uber também obteve licença de fintech, mas afirmou, recentemente, que não tem interesse em utilizá-la no curto prazo. Enquanto isso, a indústria fintech afirma que a figura regulada da Instituição de Fundo de Pagamento Eletrônico (IFPE) é muito limitada, razão pela qual solicitou, em diversas ocasiões, que a norma fosse considerada atualizada, adaptando-a às necessidades do mercado.
Chile: Superdigital sai, Más Lucas entra
O site Superdigital Chile avisa que a plataforma deixará de funcionar e convida os clientes a baixarem o aplicativo do banco Santander e abrirem a conta digital Más Lucas.
“Com esta nova oferta, os clientes da Superdigital passam a ter a possibilidade de ter uma experiência digital diferenciada, muito melhor do que a que tinham com a sua conta pré-paga”, o Santander Chile respondeu à iupana.
A primeira informação sobre o encerramento das operações foi divulgada em outubro, quando clientes da Superdigital Chile receberam um e-mail, conforme noticiou a mídia Chócale.
A Superdigital ofereceu no país um cartão pré-pago, meio de pagamento que, nos últimos meses, tem sido alvo de polêmica, já que grandes lojas de varejo, como Walmart ou Falabela.com, não o aceitam. Há algumas semanas, Falabella nos explicou o motivo de sua decisão.
De acordo com os resultados financeiros do grupo financeiro no Chile, em 2021, a marca Superdigital contava com 257 mil usuários, o número cresceu para 397 mil em dezembro de 2022 e este foi o último ano em que os resultados foram reportados, porque, em 2023, a marca desapareceu do relatório financeiro.
No Chile, outros emissores de cartões pré-pagos como MACH, do banco BCI, e Tenpo, da Credicorp, evoluíram para a emissão de cartões de débito, para terem maior possibilidade de escalar.
Peru e Colômbia: lançamentos congelados
No Peru e na Colômbia, a Superdigital contratou gestores nacionais, mas, mais de um ano após as nomeações, os lançamentos não se concretizaram.
O lançamento da Superdigital no Peru estava previsto para abril de 2023, como a empresa nos garantiu na época. Porém, até o momento, ele não foi oficializado e nem está disponível um aplicativo para o país.
Na Colômbia, a apresentação estava prevista para 2022, mas, desde maio de 2024, não existe aplicativo — o app disponível está em português para cidadãos brasileiros.
As novidades da Superdigital no Brasil e na Argentina
Em contrapartida, a plataforma está ativa no Brasil, primeiro país onde foi apresentada, e na Argentina. Em ambos os portais, fica esclarecido que a marca pertence à PagoNxt, divisão de pagamentos de consumo e empresariais do Santander.
Na verdade, pelo menos até junho de 2023, a PagoNxt promoveu em seu site a Superdigital como sua solução bancária para a América Latina. Mas, nesse momento, a menção à carteira desapareceu.
iupana perguntou à PagoNxt sobre isso, mas não obteve resposta. Também foram solicitadas informações à controladora espanhola sobre o desempenho geral da plataforma, mas igualmente não obteve resposta.
Em 2017, o Santander comprou a ContaSuper do Brasil e a renomeou como Superdigital. Até o momento, abriu quase 2 milhões de contas de cartões pré-pagos, segundo seu site.
Um ex-funcionário da Superdigital, com conhecimento de operações na América Latina, acredita que a proposta foi interessante, mas complexa, porque o banco Santander mantém propostas semelhantes. Ele acrescentou que, desde o Brasil, as notícias também não são animadoras.
“Pessoas do Brasil me disseram que estão avaliando se deveriam começar a fechar a Superdigital como produto em todos os lugares; e tudo o que pudesse ser vendido para recuperar alguma coisa, eles iriam fazê-lo.”