Pagamentos em tempo real; evolução da vida digital; pequenas e médias empresas como geradoras de lucros; avanços tecnológicos motivando fintechs; ajustes regulatórios e finanças integradas em todos os lugares: estas são algumas das tendências de pagamento digital que ditarão os próximos três a cinco anos.
À medida que as transações imediatas crescem, o cenário esperado é, cada vez mais, descentralizado e digital, com os dispositivos móveis no centro das atenções, de acordo com previsões da Mastercard e de Philip Bruno, sócio para a prática de pagamentos globais da consultora global McKinsey.
“Estamos à beira de uma quarta era dos tempos modernos. [Tivemos] a era do papel (dinheiro e cheques, transações pessoais, distribuição em agências, cadeias de valor dos próprios bancos). Depois veio a era do plástico, seguida pela era das contas (centralizadas em torno de contas, transferências e pagamentos diretos) até chegar à era desvinculada: carteiras omnicanal, descentralizadas, abertas e personalizadas”, explicou em sua palestra no Mastercard LAC Innovation Forum 2023, realizado em Miami, no fim de novembro.
Reguladores se adaptam às novas finanças
Desta forma, as contas bancárias deixam de ser a principal reserva de valor, dando lugar às plataformas digitais e às finanças incorporadas.
Neste sentido: “a regulação será muito mais sobre atividades do que sobre atores”, afirmou o consultor com experiência na América Latina, explicando que a regulação concentrada em serviços e não em entidades, segurança de dados, acesso não bancário a sistemas de pagamento e propriedade dos clientes sobre seus os ativos digitais serão as quatro áreas regulatórias na vanguarda.
Neste contexto, destacam-se as elevadas taxas de crescimento dos pagamentos instantâneos em tempo real, particularmente em mercados como o Brasil, onde a mudança tem sido impulsionada pelas autoridades centrais, que “estão garantindo a existência dos esquemas e a aplicação das regras a cada um dos casos de uso”.
Da mesma forma, o consultor enfatizou a evolução de open finance. Na transição para uma economia aberta, o pagamento como serviço (payment as a service), ou incorporado nas experiências digitais de inúmeras indústrias, está mudando a forma como os serviços financeiros são prestados.
Modernização da infraestrutura
Para compreender e endereçar esta nova era de pagamentos, o especialista destacou cinco prioridades para os prestadores de serviços financeiros, que devem competir não só entre si, mas também com fintechs e empresas tecnológicas como Nubank, Apple ou Amazon que continuam a capturar ações no mercado.
São elas: construir relacionamentos com clientes; avançar para empresas baseadas em produtos e software, capazes de competir com empresas de tecnologia mais ágeis; adoção de inteligência artificial generativa e automação como aceleradores de eficiência e crescimento; modernização da tecnologia de pagamento; e avançar em fusões e aquisições oportunas.
Segundo dados apresentados por Bruno, o mercado global de pagamentos está se aproximando aos US$ 2,2 trilhões em receitas e parte desse aumento é impulsionado pela América Latina e pela Índia, com uma aceleração de dois dígitos, nos 13%.
Dinheiro perde terreno
Os consumidores já incorporaram a digitalização entre as suas preferências. Durante o seu Fórum de Inovação, uma reunião com milhares de líderes da indústria tecnológica e financeira, a Mastercard apresentou pesquisas sobre comportamentos de pagamento em consumidores de 14 países da América Latina e do Caribe.
Entre as principais conclusões está que, nos últimos anos, vários métodos alternativos de pagamento aumentaram, com 77% dos consumidores utilizando pagamentos eletrônicos, sendo o crédito e o débito os instrumentos de pagamento mais utilizados, tanto no online quanto em lojas físicas. O débito se destacou como o meio de pagamento digital mais importante, sendo utilizado por 63% dos consumidores.
Metade dos consumidores indicou que a adoção de pagamentos eletrónicos é motivada pela redução da utilização de numerário. O segundo motivo, 45%, se deve à rapidez das transações. A pesquisa também mostrou que embora a introdução de novos métodos de pagamento tenha aumentado, os consumidores preferem carteiras digitais quando fazem uma compra em uma loja devido à conveniência (45%), rapidez (44%) e acessibilidade/experiência do usuário (44%) .
De fato, Kiki del Valle, vice-presidente-executiva para desenvolvimento de mercado da Mastercard América Latina e Caribe, destacou que o futuro dos pagamentos reside na proliferação de carteiras digitais, na infraestrutura de pagamentos em tempo real e na sustentabilidade ambiental e social (ESG).
Em conferência de imprensa durante o evento, indicou que o aumento da bancarização na região, impulsionado, em parte, pelas fintechs, dinamizou o mercado. Mas ainda existem oportunidades para adicionar aqueles que permanecem fora do sistema financeiro.
“Na América Latina, passamos de 55%, em 2017, para 74%, em 2021, de pessoas com serviços bancários: um número significativo. Como região, avançamos mais que outras”, destacou, acrescentando que um quarto da população que ainda não está incluída no sistema representa uma oportunidade para os produtos.
PME como potenciais clientes
Outro mercado em crescimento, segundo Del Valle — e em linha com o que destacou Bruno — é o das PMEs e a sua necessidade de soluções para o mundo empreendedor, como o do pequeno comerciante. “Estamos tratando de ir além do pagamento, usando dados para entender perfis e criar soluções mais personalizadas, além de ter métricas para medir”, afirmou a VP da Mastercard.
As transações sem contato também estão aumentando e apresentaram um crescimento vertiginoso após a pandemia da Covid-19, passando de 4% de adoção na América Latina para cerca de 60%, segundo a executiva. No entanto, as transações sem contato, através de wallets, ainda apresentam uma penetração menor, de 15%, principalmente devido à barreira de entrada representada pelo custo dos celulares com tecnologia NFC embarcada.