As carteiras digitais vão ditar o futuro dos pagamentos, porque tem a capacidade de melhorar o ecossistema e a habilidade de colocar contexto nos pagamentos. E, ao entender as atividades, o histórico de gastos e o comportamento do usuário, as wallets passam a fazer previsões. Na base de tudo está a inteligência artificial, segundo Brett King, autor de best-sellers e especialista no futuro do setor bancário.
Ao palestrar no Mastercard LAC Innovation Forum, que ocorre nesta semana em Miami (EUA), King recordou que o uso de caixas eletrônicos e dinheiro está em declínio em todo o mundo. “O comportamento dos pagamentos, normalmente, leva muito tempo para mudar. Mas, com a inteligência artificial chegando aos pagamentos e às infraestruturas, as coisas vão mudar muito rapidamente. Já estamos começando a ver o início dessas mudanças e elas estão mudando o jogo”, disse, acrescentando que, ao redor do mundo, as carteiras estão ganhando importância e aproximadamente 60% dos consumidores usarão suas carteiras como principal veículo de pagamento nos próximos anos.
A China tem sido um grande motor deste crescimento, tendo mudado completamente seus meios de pagamentos em pouco mais de uma década. “Se você visitasse a China em 2010, teria descoberto que, em termos de pagamentos de varejo, cerca de 98% de todo o comércio era feito em dinheiro. Hoje, 92% de todo o comércio é feito em carteiras. E isto obviamente mudou dramaticamente a composição dos diferentes players do sistema”, disse.
É nesse contexto, o elemento central da razão pela qual as carteiras estão tem o potencial de melhorar a acessibilidade aos serviços financeiros e mudar a dinâmica dos pagamentos é a capacidade de contextualizar o pagamento, algo que as tecnologias anteriores não tinham. Fornecer análises sobre o comportamento financeiro suporta o usuário a tomar decisões já que ele tem uma noção mais clara de como determinado pagamento afeta seu balanço financeiro ou tem uma visão mais clara de quanto está gastando com cafés, transportes ou supermercado. “A consciência de como se gasta o dinheiro é um elemento crítico para as pessoas gerirem o seu dinheiro hoje”, frisou o especialista.
“Então, imagine sua carteira chegando até você e dizendo: ‘ei, você tem um pagamento de seguro de carro com vencimento em primeiro de janeiro, mas com base em seu fluxo de caixa atual, você não terá condições de pagar por isso. Então, quais são as estratégias?’”, explicou Brett King.
Assim, as carteiras digitais inteligentes funcionarão como assistentes pessoais. “E, à medida que ficamos mais confiantes no uso da inteligência artificial como sendo a nossa IA pessoal, pediremos que realizem tarefas cada vez maiores. Vamos pedir-lhe que administre as nossas finanças domésticas, certifique-se de que todas as nossas contas estão pagas e só nos avisará quando houver algum problema”, prevê King.
Diante deste cenário, será necessário contar com mecanismos para provar que o usuário deu autoridade a um agente de IA para realizar transações em meu nome. Esta é uma das razões pelas quais as carteiras são um mecanismo importante, disse King, explicando que elas permitem que sejam etiquetados diferentes tipos de cadeias de dados.
O desafio de implementação para bancos e fintechs
Tecnologicamente falando, as carteiras e contas bancárias inteligentes precisam ser nativas da nuvem. Neste ambiente, um dos aprendizados vem do mercado cripto, que é a capacidade de reverter — não se trata de chargebacks, mas, como colocou King, de “rollbacks e reversal” —, ou seja, conseguir reverter uma transação será muito importante.
“É por isso que você precisa de dinheiro digital. A moeda fiduciária não tem essa capacidade. Precisamos de dinheiro digital programável para realizar transações em ritmo acelerado no mundo inteligente”, assinalou, apontando que, à medida que a tecnologia avança, a economia inteligente ganha novas formas.
Contratos inteligentes serão usados nas empresas e no dia a dia, mas para isso bancos e redes de pagamento como a Mastercard terão papel fundamental como partes confiáveis. King assinalou que contratos inteligentes estão sendo desenvolvidos hoje, mas a maior mudança ocorrerá no âmbito do comércio transfronteiriço e com as CBDCs.
Para King, todo esse progresso e novo panorama deve ocorrer até 2050, quando as maiores economias do mundo serão altamente automatizadas, com, segundo ele, talvez até 50% da economia seja gerida por inteligência artificial nos próximos 30 anos. São economias que serão baseadas em máquinas executando contratos inteligentes e navegando por pagamentos inteligentes. “Não há como negar que esta é a jornada. O capitalismo tem de encarar isso, porque vai criar uma riqueza incrível para os mercados e as corporações, o que significa que muitas das redes de pagamentos e assim por diante que utilizamos no passado terão de evoluir muito rapidamente”, enfatizou.