O boom das fintechs na última década ensinou uma lição valiosa a outros setores: não é necessário ter uma rede de agências e caixas eletrônicos para oferecer serviços financeiros e entrar no lucrativo mercado bancário.
Assim, um número crescente de varejistas, operadoras e supermercados tem aumentado sua capacidade de oferecer contas digitais a seus usuários, tirando uma fatia do negócio financeiro e preenchendo uma lacuna na oferta: eles identificaram que, embora sejam necessárias muitas ações de marketing para clientes às lojas, muitas das vendas (físicas e virtuais) falham na hora do pagamento.
Aí está a origem de fintechs de rápido crescimento, como o Spin by OXXO, o correspondente bancário com maior implantação no México, ou o Mercado Pago, nascido para dar uma vantagem competitiva ao Mercado Livre, que viu que um canal de pagamento dentro de seu e-commerce aceleraria as vendas.
Essa sinergia também ajuda as diferentes partes do negócio a se retroalimentarem, ajudando-as a atingir metas econômicas, algo pouco alcançado pelo Nubank após quase dez anos de operação e que continua inatingível para a Creditas, por exemplo.
“Se vemos bancos digitais no mundo, as fintechs perdem dinheiro. Ganha quem tem um negócio paralelo que os torna um funil de quase clientes”, explica Julián Colombo, analista e CEO da N5 Now, plataforma de tecnologia financeira.
"Se o Mercado Pago tivesse sido criado na ausência do Mercado Livre, os resultados seriam completamente diferentes", diz Colombo.
Para ilustrar essa tendência, atualizamos nossa lista de empresas latino-americanas de outros ramos que agora possuem operações de fintech para completar seus ecossistemas de soluções, melhorar a experiência do usuário e aumentar seus retornos.
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Walmart México: Cashi
A maior rede de varejo do México, o Walmart, adquiriu recentemente uma licença de Institución de Fondos de Pagos Eletrônicos (IFPE), com a compra da fintech Trafalgar. Essa operação busca fortalecer a abrangência comercial da carteira digital Cashi e atrair mais vendas para as lojas.
“O que aconteceu nos últimos anos mudou de forma brutal. [Fintech] é um modelo de negócios totalmente diferente, muito mais flexível”, diz Christopher Luna, CEO da Cashi.
A empresa está definindo os próximos passos da carteira, mas antecipa que quer ampliar suas alianças com terceiros para que ofereçam créditos por meio de seu app. Embora não excluam a entrega de créditos diretos.
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Ripley: Chek
Após quase 70 anos no mundo das vendas departamentais, o Grupo Ripley expandiu suas soluções financeiras. Em 2020, lançou Chek, uma carteira digital para facilitar seus pagamentos em loja.
“Nossa estratégia é complementar com diferentes atores dentro do ecossistema digital”, disse, em setembro, Matías Goldsmith, CEO da carteira.
Através da Chek, a Ripley oferece crédito, cartão digital e serviço de remessa em parceria com um parceiro. Goldsmith garantiu que mais de 100.000 empresas chilenas aceitaram pagamentos com a carteira no Chile.
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Mercado Livre: Mercado Pago
O e-commerce Mercado Livre lançou seu braço fintech Mercado Pago em 2003, inicialmente como um suporte para agilizar os pagamentos digitais no marketplace. Por meio da carteira, o e-commerce agora reforça suas estratégias de promoção e desconto, ao mesmo tempo em que atrai outros públicos que não compram nem vendem no Mercado Livre.
De acordo com os últimos resultados financeiros da empresa, o volume de dinheiro (a uma taxa de câmbio neutra) transacionado no Mercado Pago cresceu 96% ano a ano. No primeiro trimestre, movimentou cerca de US$ 37 bilhões, ante US$ 25,3 bilhões no mesmo período de 2022.
A carteira tem mais de 50 milhões de usuários na América Latina e, dependendo do mercado, oferece serviços de cripto, seguro ou cartão de crédito, além de serviços relacionados a pagamentos como QR Codes e pontos de venda móveis.
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Oxxo: Spin by Oxxo
Spin by Oxxo é a carteira digital da rede de lojas de conveniência mais popular do México. A Femsa, grupo detentor das duas marcas, lançou a aplicação na última semana de 2021 e no final de 2022 contava com 3,9 milhões de utilizadores ativos, número que pretende aumentar para 10 milhões este ano.
“Sem dúvida, a OXXO contribuiu significativamente para o posicionamento da nossa marca, bem como para a conquista de usuários graças ao número de lojas”, disse Marcela Vega, CFO da Digital@Femsa, divisão de inovação do grupo, em dezembro.
O Spin by Oxxo tem uma proposta de pagamentos e transferências pelo celular, além de ser uma alternativa digital para recebimento de remessas.
Em outubro, a carteira foi autorizada pelos reguladores mexicanos como uma Institución de Fondos de Pagos Electrónicos (IFPE) e, em novembro, o grupo Femsa adquiriu o agregador de pagamentos Netpay, que serve os setores B2B, antecipando a sua inserção no segmento das pequenas e médias empresas.
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DiDi: DiDi Pay, DiDi Empréstimos e Cartão DiDi
A DiDi iniciou sua estratégia financeira com o objetivo de oferecer soluções para a gig economy, setor negligenciado pelos bancos tradicionais. Isso sim. No entanto, eles vêm ampliando seu raio de ação.
A empresa lançou sua carteira digital DiDi Pay no México, no fim de 2020, para que os motoristas da plataforma pudessem receber sua renda e fazer pagamentos diretamente do aplicativo, além de ter acesso a um cartão de débito. O produto também foi apresentado no Brasil com o nome 99. Depois ampliaram a oferta também para os usuários.
Desde o fim do ano passado, os mexicanos também podem fazer recargas, pagar serviços básicos e comprar ingressos de cinema no DiDi Pay.
O segundo produto na América Latina foi o DiDi Préstamos (empréstimos), apresentado em outubro de 2021, também no México. Os usuários podem solicitar créditos de até US$ 1.600, habilitados diretamente pelo DiDi, que utiliza os dados de uso do aplicativo para avaliação de risco.
“Nossa estratégia está focada em desenvolver soluções que se adaptem às necessidades pessoais e econômicas dos usuários de nossa plataforma”, disse Jordi Cueto-Felgueroso, gerente de relações públicas da DiDi México, em entrevista à iupana no ano passado.
No fim do ano passado, a empresa fez um soft launch de seu cartão de crédito DiDi Card, que ainda está em fase de testes. Por enquanto, apenas os usuários que receberem um convite dentro do aplicativo podem se inscrever.
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Magazine Luiza: Fintech Magalu
O gigante brasileiro do e-commerce, Magazine Luiza, centralizou seus produtos financeiros na Fintech Magalu, marca lançada em maio de 2022.
Com essa nova vertical, o Magalu pretende levar seus produtos fintech para terceiros e aproveitar os novos modelos de negócios que open finance está abrindo no Brasil.
“Temos a vantagem de testar os produtos internamente, implantando e desenvolvendo as tecnologias com equipe própria dentro dos sites do grupo”, disse à iupana Leandro Hespanhol, diretor-comercial e de novos negócios da fintech.
“Mas também vamos oferecer fora do ecossistema Magalu”, acrescentou.
A Fintech Magalu lançou operações com dois produtos: cartão corporativo e crédito pessoal, este último viabilizado pelo Itaú Unibanco. Meses depois, recebeu autorização como iniciador de pagamentos no Pix.
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Habi: Rumo a hipotecas com Habi Credit
A colombiana Habi, corretora de imóveis online, lançou o Habi Credit com o objetivo de conectar os clientes com os bancos que melhor se encaixam em seus perfis de crédito.
Para isso, a proptech utiliza ferramentas tecnológicas que automatizam e organizam os dados dos clientes, aumentando as chances de conversão na aprovação do crédito imobiliário.
"Além disso, estamos integrando a tecnologia não apenas no perfil inicial, mas em todos os processos seguintes para agilizar a avaliação e a tomada de decisão por parte da instituição de crédito e assim poder oferecer o melhor serviço aos nossos clientes", disse Juan Pablo Garavito, CFO da Habi, em entrevista à iupana, em junho de 2022.
A Habi obteve três linhas de crédito totalizando US$ 190 milhões, de grupos de investimento como TriplePoint Capital, BID Invest e Victory Park Capital.
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Rappi: Pagamentos, cartões e adquirência
O RappiPay foi o primeiro produto financeiro digital lançado pelo unicórnio colombiano em 2019. Esta solução nasceu em parceria com o banco colombiano Davivienda e a Visa.
Embora a Rappi tenha iniciado suas operações com uma proposta de delivery de comida em 2015, ao longo dos anos ampliou seu braço de fintech e lançou produtos financeiros como RappiCard e Paga con Rappi. A primeira coloca cartões pré-pagos ou de crédito emitidos por bancos parceiros na América Latina e a segunda é uma proposta de aquisição digital.
“Os novos terminais de venda serão esses processadores virtuais de pagamento, como fazemos na Paga con Rappi”, disse Lorena Sánchez, então líder global da Paga con Rappi, em março deste ano.
O superapp colombiano alcançou o status de unicórnio em 2018 e foi avaliado em US$ 5,2 bilhões em julho de 2021, no entanto, a vertical financeira parece não decolar.
Em fevereiro deste ano, o CEO do Interbank, seu banco parceiro no Peru, disse que eles não atingiram os objetivos da aliança com o Rappi e que estão dispostos a fechar as iniciativas que não têm tração.