Com colaboração de Antony Pinedo e Eyanir Chinea
Embora o uso do dinheiro digital tenha tido um boom recente, a verdadeira massificação dos pagamentos digitais na América Latina envolve quebrar as barreiras criadas pelo dinheiro em espaços de uso intensivo. Entre eles, transporte público.
Na agitada Cidade do México, mais de 8 milhões de usuários usam diariamente o sistema público de metrô. No ano passado, mesmo diminuído pelos efeitos da pandemia, o sistema que integra Metrô, Metrobus e trem rápido, movimentou um número impressionante de pessoas: 837 milhões.
É também uma atividade onde uma extensa cadeia de valor de adquirentes, provedores de tecnologia, fintechs, bancos, empresas e governos se reúne. E que tem o potencial de mover adiante os pagamentos digitais.
Nesse cenário, o Mercado Pago, carteira digital da companhia argentina Mercado Livre, começou, em março, a oferecer recargas para o cartão de mobilidade integrada, a Tarjeta Mi, um plástico para pagar as viagens.
A fintech habilitou seus terminais móveis de ponto de venda (PDV) com tecnologia NFC para que lojistas em cerca de mil pequenos comércios possam recarregar o cartão dos viajantes, caso seu celular não tenha tecnologia contactless. Eles também podem usar diretamente a carteira para completar a Tarjeta MI.
“É um fluxo onde estamos investindo, pois vai gerar aquisição e retenção de usuários”, diz Jorge Cabrera, diretor-comercial para usuários do Mercado Pago, à iupana.
A proposta de licitação da fintech para a Secretaria de Mobilidade (Semovi) da Cidade do México (CDMX) continha a menor taxa de comissão por recarga, o que reduziu a margem de sua renda, mas os beneficiou com exclusividade do contrato até dezembro de 2024.
O projeto também agilizará a experiência do usuário ampliando os pontos de carregamento, já que nem todas as estações possuem máquinas automáticas e, ademais, só aceitam pagamentos em dinheiro exato.
“Esses comércios não são grandes redes, são lojas pequenas, lojas de bairro, lavanderias, até barracas de rua, que estão por toda parte. É uma grande vantagem. E aí os lojistas ficam felizes, porque isso os ajuda a trazer o trânsito para a loja também”, acrescenta.
A construção de um ecossistema completo de pagamentos digitais tornou-se uma prioridade para o setor financeiro. Embora a emissão de carteiras continue se expandindo, ainda há a necessidade de construir pontes e viabilizar tecnologia que permita o uso desses meios alternativos de pagamento em lojas de bairro, barracas de rua e na, às vezes caótica, rede de transporte público.
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Pagamentos interoperáveis: Do transporte à alimentação
Nessa linha, a empresa Pex do Peru gerencia um meio digital para o pagamento de pedágios em estradas movimentadas da cidade de Lima. Trata-se de outro caso em que o atrito das operações pode ser reduzido utilizando métodos alternativos. Com uma etiqueta eletrônica, vinculada a uma carteira digital, ela é debitada automaticamente quando o veículo passa pelos leitores de pedágio, solução que também está crescendo em outros países da região.
Através da concessão, 5 milhões de transações são processadas e 25% delas são coletadas digitalmente com a tag da Pex. Da mesma forma, 65% das recargas da carteira são feitas através do aplicativo.
Por meio da cobrança manual, são servidos 300 veículos por hora, enquanto o pedágio eletrônico pode processar mil veículos no mesmo intervalo de tempo.
“Nosso objetivo é crescer, é fazer que isso seja um meio de pagamento veicular”, diz Mónica Chuman, gerente responsável pela Pex, acrescentando que fecharam um primeiro acordo com um grande shopping center para cobrar pelo estacionamento através da carteira e da etiqueta eletrônica.
Eles também querem permitir que sua tecnologia faça pagamentos de combustível em postos de gasolina. Em um sentido geral, o gestor diz que a empresa tem em sua mira a criação de todo um sistema integrado.
A ideia é que: “o cliente possa pagar pedágios, estacionamento nos shoppings, combustível; possa ir a um drive-thru, por exemplo, de Kentucky ou Burger King, e também pagar com sua tag”, explica Chuman.
No entanto, ela reconhece que para isso o país precisará de uma regulamentação adicional.
Na medida em que concorda com Ximena Azcuy, diretora de redes e alianças financeiras para as Américas da Rapyd, uma fintech as a service global para integração de pagamentos eletrônicos.
“Precisamos de um pouco de regulação, de ajuda dos governos. Mas a interoperabilidade será a chave para a massificação dos pagamentos eletrônicos. Até a interoperabilidade entre os países da região”, diz.
Ele cita como passos importantes os sistemas de pagamento instantâneos e interoperáveis na região, como Pix no Brasil, Transferências 3.0 na Argentina ou CoDI no México. O desafio agora é obter linguagens comuns para essas plataformas se comunicarem, apesar das fronteiras.
“Os usuários estão se tornando, cada vez mais, globais, então, como hoje os cartões de crédito são utilizáveis em todos os sites, outros métodos, como carteiras também devem ser”, diz Ximena Azcuy.
O Mercado Pago tem pouco mais de dois meses de operações na rede de recarga da Tarjeta MI e mais de 80 mil usuários já utilizaram seu serviço. É um primeiro passo.
“Além do fato de você pagar online, com QR, com o cartão de débito, a mobilidade é algo que você acaba pagando dia após dia”, diz Cabrera.