O neobanco colombiano Lulo Bank identificou o acesso limitado a contas em moeda estrangeira como uma oportunidade de oferecer poupança e rendimentos em dólares virtuais, usando criptomoedas estáveis USDC.
A iniciativa do banco digital do Grupo Gilinski, executada por meio de sua fintech Lulo X, mostra como os grupos financeiros tradicionais estão adicionando ofertas baseadas em blockchain e ativos virtuais para atender à demanda dos usuários: uma aposta que gigantes como o Itaú, do Brasil; BCP, do Peru; BCI, do Chile, e o Bancolombia estão seguindo de perto — embora em seus próprios ritmos.
Natalia Jiménez, CEO da Lulo X, explica, em uma entrevista à iupana, que “a Colômbia é um dos únicos países da América Latina que não permite que você tenha uma conta em moeda local e estrangeira [...] Vimos um problema comum a todos eles”.
“Os colombianos estão perdendo cada vez mais poder de compra. Foi aí que nasceram os produtos do banco e como podemos dar a eles acesso a poupanças que permitem que o dinheiro cresça”, continua.
A poupança em moeda estável do consórcio Circle oferece um rendimento de 4,8%. Além disso, a plataforma tem um cartão de débito integrado que permite aos usuários fazer compras com dólares, sem adicionar taxas de câmbio para pesos colombianos.
Lulo X tem mais de 70 mil clientes e um faturamento trimestral de US$ 2 milhões — uma base suficiente para aumentar a lista de criptomoedas disponíveis no aplicativo, diz a CEO.
Antes do fim do ano, a oferta será estendida a outras criptomoedas populares. “Esse projeto é chamado de multicoin: bitcoin, ether e eurocoin (EUC). Você poderá usar tudo no mesmo cartão, poderá decidir com qual das moedas que você tem no Lulo X você quer pagar no momento”, explica Jiménez.
Depreciação das moedas latinas vs fortalecimento do USD
As moedas da América Latina desvalorizaram-se em massa durante o primeiro semestre do ano, com o peso colombiano entre as cinco moedas que mais perderam terreno, afetado pelas mudanças políticas e econômicas nas principais economias da região, Brasil e México. Espera-se que o fortalecimento do dólar continue nos próximos meses, dado o corte nas taxas referenciais nos Estados Unidos.
Isso gerou apetite pela compra de ativos virtuais descentralizados e também vinculados ao dólar americano. Em uma amostra de preferências de mercado, durante o primeiro semestre do ano, mais de um terço das compras dos usuários regionais da exchange Bitso foi de stablecoins que acompanham o dólar, combinando USDC (22%) e USDT (14%). O bitcoin, por sua vez, registrou 28% das aquisições.
No entanto, Jiménez esclarece que o Lulo X não pretende competir com exchanges como Binance ou Bitso, nem se limitar à negociação. A visão é fortalecer a oferta do grupo financeiro e energizar o circuito de criptomoedas, algo que empresas como a Lemon já estão fazendo no Peru e na Argentina.
O CEO destaca que os usuários estão cansados de ter suas finanças distribuídas em diferentes aplicativos e é por isso que o acesso ao Lulo X se dá através da plataforma Lulo Bank, que ajuda a ter uma visão abrangente. O neobanco já está alcançando um milhão de usuários, o que também os ajudará a promover o Lulo X.
“Estamos falando de capacitação financeira e de complementar o portfólio bancário tradicional ou regulamentado com o Lulo X, portanto, nos primeiros seis meses, operaremos apenas com os clientes do banco”, acrescenta Jiménez.
A proposta da plataforma - lançada para o público em geral em janeiro - conta com a Pomelo como parceira para a emissão de cartões, por meio de uma solução BIN sponsor, porque, por regulamentação, Lulo X não pode usar a licença do banco para fazer isso.
Por fim, Jiménez lista três fluxos de receita para o Lulo X: comissões pela compra e venda de dólares digitais, compartilhamento de receita pelo uso do cartão e a dispersão da folha de pagamento em dólares para trabalhadores remotos.
“Para nós, isso foi o que nos ajudou a alavancar esse crescimento, porque são clientes que já nasceram com o Lulo X como seu banco principal, por assim dizer”, diz ela.