O banco Alfin, do Peru, está rentabilizando sua verticalização de banking as a service (BaaS) com um modelo baseado na cobrança pelo volume de uso que os usuários finais fazem dos serviços oferecidos por seus clientes: fintechs que, por regulamento ou orçamento, estão impedidas de criar seus próprios produtos.
O BaaS está avançando na região com os bancos aperfeiçoando suas soluções para fornecê-las a terceiros: uma forma de alcançar novos segmentos de mercado, embora com uma regulamentação incipiente que ainda não define claramente as responsabilidades.
Entidades como BICE, do Chile, e BS2, do Brasil, apresentaram sua gestão de BaaS com a expectativa de que gerem receita na contabilidade das empresas no longo prazo. O Alfin acredita que o modelo de monetização é fundamental e confia que irá gerar até 30% dos seus lucros até ao fim deste ano.
“É um negócio principalmente transacional com receitas não financeiras. Isso está criando uma espécie de pedágio transacional em tudo o que oferecemos às fintechs”, disse à iupana Guillermo Nalvarte, gerente de BaaS e meios de pagamento do Alfin Banco, que pertence ao Grupo Coril.
Até maio, o banco fechou 14 acordos para fornecimento de produtos financeiros e a expectativa é encerrar o ano com 20 negócios em operação. Com esta porta aberta, também quer fornecer financiamento ou fundos fiduciários aos seus parceiros.
“Os clientes são das fintechs. Definitivamente, estando conosco há uma figura compartilhada, mas existem acordos de confidencialidade, acordos de uso de dados que ocorrem em cada caso e dependendo do modelo é claro”, afirma o gestor.
Monetização em desenvolvimento
A forma de rentabilizar o BaaS é variável e depende do acordo entre as empresas. Porém, é comum no mercado peruano os bancos utilizarem fintechs como canais para atrair novos usuários, segundo Isabel Palao, cofundadora e CEO da Máximo, fintech que recentemente fechou acordo com o Alfin Banco para oferecer conta poupança dentro desta modalidade.
Ao conversar com outros bancos, “sempre caímos um pouco nesse modelo de venda de leads; no final, viramos um marketplace que não fazia sentido para nossos usuários, não gera valor para nosso produto”, afirma Palao. “Era simplesmente como um passe de referência, então, não chegamos a entender muito bem esse modelo de negócios.”
Alfin esclarece que o banco como serviço é a sua estratégia para atingir novos segmentos e diz que não têm planos de lançar a sua própria carteira digital, diante de um mercado capitalizado por grandes concorrentes como Yape e Plin. “Não vamos seguir esse caminho”, diz o gerente.
O banco também quer ir além das fintechs, à medida que mais indústrias precisam de produtos financeiros, e ressalta que faculdades e universidades exigem serviços de cobrança e pagamento, por exemplo.
Esclarecendo responsabilidades: BaaS sob o microscópio
Desde meados de maio, o modelo BaaS está sob análise minuciosa nos Estados Unidos, após a falência da Synapse, empresa de tecnologia que fazia a intermediação entre fintechs e bancos para o fornecimento de produtos financeiros.
Fintechs como Yotta estavam executando um modelo BaaS com a Synapse para coletar recursos de usuários finais e depois depositar os fundos em contas bancárias como Evolve Bank & Trust.
Até o momento, as autoridades falam de um déficit entre os registros da Synapse e dos bancos chegando a um valor de até US$ 96 milhões. Isto congelou as contas de 200 mil clientes, enquanto se discute em quem recaem as responsabilidades.
Na América Latina, o panorama regulatório também é incipiente. No México, discute-se a figura de um comissário digital, um terceiro que pode realizar operações básicas em nome de uma instituição financeira autorizada, que é responsável perante os supervisores. E, na Colômbia, os intervenientes do ecossistema estão utilizando a sua experiência em BaaS para estabelecer a interoperabilidade de dados no modelo de open finance que o país está desenvolvendo. Embora no Peru ainda não exista regulamentação específica de BaaS, o mercado avançou neste modelo de negócios.
“Os bancos são regulamentados e possuem controles de segurança muito sólidos que minimizam muito a questão de fraudes e outros tipos de situações que ocorrem nos sistemas financeiros que colocam até mesmo os fundos das pessoas em risco. Somos muito sólidos nesse sentido”, finaliza Nalvarte.