A Coca-Cola Andina está promovendo sua vertical fintech com a estratégia de digitalizar seus canais de distribuição e pagamento, gerando dados que abrem oportunidades para a criação de produtos mais complexos, como a oferta de crédito.
A aposta em fintech surge da necessidade de solucionar problemas como gestão de caixa e liquidação de pagamentos, responsabilidades que cabem aos transportadores encarregados de entregar refrigerantes às 260 mil micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) clientes da Coca-Cola Andina, distribuídos no Paraguai, Chile, Argentina e Brasil — nos últimos três países, também possui licença parcial de produção e distribuição.
A empresa identificou que seus clientes estão avançando na adoção de carteiras digitais, mas que seus recursos são insuficientes, porque ainda há presença significativa de dinheiro físico. Por isso, apresentou em maio um PDV (ponto de vendas), uma solução B2B2C (business to business to client) para ampliar a cobrança digital de pagamentos e gerar recursos disponíveis para facilitar a arrecadação da subsidiária Andina.
“O que buscamos é levar novas tecnologias aos nossos clientes para que possam reduzir o manuseio de dinheiro e ajudá-los a reduzir riscos e melhorar a produtividade no ponto de venda”, afirma Nicolás Nazario, gerente de transformação digital da Coca-Cola Andina.
Ele acrescenta que uma das contingências que procuram reduzir é o tratamento de dinheiro junto dos transportadores, no caso da Andina ou de qualquer outra CPG (empresa de produtos de consumo imediato, na sigla em inglês) com a qual o cliente interage.
O PDV está em fase piloto e conta com pouco mais de 200 clientes operacionais na Argentina, mas a empresa espera expandir a solução aos clientes com base nos resultados. Para sua operação, a Coca-Cola Andina firmou parceria com a fintech INI, especializada em oferta de PDV, e com o banco Comafi.
“Entendemos que a forma dessa digitalização é chegar ao consumidor final, ao início da cadeia de pagamentos”, complementa Alexander Saposnicof, product owner de pagamentos digitais da Coca-Cola Andina, observando que este é o caminho para expandir o bolo do dinheiro digital.
Junto ao PDV, a empresa dispõe de uma aplicação corporativa, com a qual os clientes podem inserir os seus pedidos e pagar à vista ou com cartões, mesmo utilizando ambos na mesma operação. Além disso, na Argentina possuem uma carteira digital disponível apenas para seus clientes e avaliam abri-la para que passe a fazer parte do sistema de pagamentos interoperável do país.
A utilização desses canais digitais representa 30% das vendas totais da empresa. Esse volume de transferências fornece informações valiosas para a empresa que busca valorizá-las.
“A capacidade de arrecadar dinheiro digital para nossos clientes abre um mundo de oportunidades”, afirma Saposnicof.
Créditos: o próximo lançamento da Coca-Cola Andina
A Andina antecipa que tem expectativa de ampliar o catálogo de produtos e serviços para seus clientes e que a oferta de créditos está no radar. “Está dentro da estratégia de avanço e, obviamente, também baseado no crescimento natural que esses ecossistemas costumam ter”, afirma líder de pagamentos digitais.
No ano passado, a Kamay Ventures, fundo corporativo da Coca-Cola e Arcor para a América Latina, disse à iupana que procurava startups que resolvessem problemas em sua cadeia de distribuição. O lançamento do PDV em conjunto com o INI é fruto deste projeto e a entrega dos créditos seguiria esse mesmo caminho.
“Procuramos diferentes startups que nos tragam propostas inovadoras e interessantes para o ecossistema de pagamentos. [...] Há outros que surgirão mais tarde, que serão conhecidos nos próximos meses, mas o INI vem basicamente da mão da Kamay Ventures”, revela Nazario.
Outras empresas de consumo de massa que forneceram fundos de investimento a startups que contribuem para os seus processos são a Bimbo e a Femsa, que também financiaram iniciativas de fintech nos seus ecossistemas.
Saposnicof antecipa que a evolução da sua vertical financeira “é muito semelhante à que têm vindo a fazer outras empresas fintech”, partindo dos pagamentos para produtos mais robustos.
De sacolas plásticas ao gerenciamento de dados financeiros
A Coca-Cola Andina chega aos seus 260 mil clientes de uma a 1,2 vez por semana. Pedidos, pagamentos e frequência de visitas geram informações para a empresa que são carregadas por meio desses canais digitais. Isso será valorizado para agregar aos objetivos corporativos.
“Nós não éramos capazes de identificar como os nossos clientes nos pagavam, mas, hoje, com estas ferramentas de pagamento digital, podemos aceder a muita informação em tempo real, o que nos permite conhecer os nossos clientes, quanto compram conosco e em que momento”, observa Saposnicof.
Além disso, as informações também são úteis para operações logísticas, já que a empresa pode mensurar volumes de produção ou rotas de distribuição.
Esses benefícios convergem para a eficiência da empresa, o que incentiva o conselho de administração a financiar a vertical fintech, apesar de não ser seu core business.
“Quando mostramos as vantagens e as oportunidades para o sistema, para os clientes, para os consumidores, para a Andina também ao nível da produtividade, da eficiência, da redução do manuseamento de numerário, há claramente um apoio interessante da equipa de gestão”, conclui Nazario.
