O Banco Pichincha, do Equador, traçou um caminho digital para ficar à frente de seus possíveis concorrentes fintechs: construir um ecossistema completo baseado em sua carteira Deuna para alcançar setores não-bancários, pequenas empresas e fazer parcerias com outros players do setor.
Em um país onde quase metade da população ainda prefere pagar em dinheiro, a estratégia da entidade se baseia em aproveitar — e incentivar — a crescente digitalização dos pagamentos. Além disso, busca criar um espaço entre os que não têm conta bancária, que representam um terço dos adultos, num contexto de desaceleração econômica.
“É uma forma de antecipar as tendências globais, das fintechs que estão fazendo as coisas um pouco mais rápido que os bancos tradicionais e atraindo muitos clientes”, disse à iupana Juan Ignacio Maturana, CEO da plataforma.
O Banco Pichincha é o maior banco do Equador, de acordo com o seu nível de ativos. O grupo, que também tem operações na Colômbia, Peru, Espanha e Estados Unidos, criou infraestrutura tecnológica própria, equipe e áreas de operações para a Deuna, que ocupa a provisão de contas da entidade.
“Há exemplos internacionais, bancos que dizem: ‘antes que outra fintech faça isso, é melhor eu criar a minha própria fintech para cobrir esse mercado que está sendo descoberto’”, acrescenta o diretor.
O Equador aprovou sua Lei Fintech em 2022, buscando justamente incentivar a criação ou a chegada de startups de tecnologia financeira. E, embora a lei apresente algumas limitações de aplicação e o país esteja em meio a uma crise de segurança, o que levou a tensões políticas, as autoridades financeiras estão avançando uma agenda em pagamentos, créditos digitais e espaços de teste controlados (sandbox) para inovação.
Neste panorama, a marca quer chegar a mais de 6 milhões de usuários e 600 mil empresas “nos próximos anos”, no país de 18 milhões de habitantes.
Procurando um boom em pagamentos e integração com terceiros
Maturana destaca que a Deuna quer aumentar o uso de pagamentos por código QR, por meio da expansão de seus usuários e da rede de comércios que aceitam pagamentos com o aplicativo. Para isso, tenta posicionar a carteira como uma alternativa digital para os consumidores e, além disso, criou um botão de pagamento que pode ser integrado a outras plataformas por meio de uma interface de programação de aplicativos (API).
“É impossível que vamos devorar todo o banco do país. O que vamos fazer é convidar outras instituições financeiras para participarem da nossa carteira”, afirma o CEO.
A interoperabilidade de pagamentos, ou seja, a capacidade de receber ou enviar pagamentos imediatos entre qualquer processador de transações, seja banco ou fintech, não existe no Equador. Um projeto regulatório apresentado pelas autoridades financeiras neste ano tenta padronizar os sistemas dos diferentes atores que ali operam para interconectá-los.
No lado das pequenas empresas, a conta Deuna já está presente em mais de 330 mil empresas afiliadas, um segmento tradicionalmente mal atendido. O executivo diz que espera juntar terceiros, como outros bancos ou cooperativas, a esta rede através do botão de pagamento que pode ser incorporado nas suas plataformas.
“[As instituições aliadas] já têm os pagadores. Assim, eles desempenham o papel de emissores e temos a nossa rede de empresas onde são convidados a participar. E seus clientes poderão digitalizar dinheiro [...]. O caixa é um custo e, adicionalmente, oferecemos a esses bancos que participam, reconhecendo seu papel como emissor, uma participação nas receitas”, ressalta.
Um de seus concorrentes diretos é o Banco de Guayaquil, que também tem uma proposta digital chamada PeiGO e que anunciou, há alguns meses, que está emitindo cartões de crédito e lançaria nanocréditos, uma espécie de empréstimo pessoal de baixo valor.
A estratégia da Deuna é diferente, diz Maturana. Eles não têm pressa em lançar cartões e preferem criar uma estrutura, com leitura de QR na base, que vai escalar e gerar renda a partir de 2025, após completar três anos de investimento oficial.
Aplicativo para empresas
O executivo anunciou ainda que, em maio, lançará um aplicativo Deuna dedicado exclusivamente a empresas para agregar soluções a esse segmento de clientes. “Identificamos uma oferta de valor que está no nosso roadmap e que não se aplica a particulares, como aceitação de cartões, incorporação de serviços de terceiros e emissão de fatura eletrônica. Todas essas funcionalidades são de grande interesse para um negócio”, avança Maturana.
Ele reconhece que, no curto prazo, não lançarão produtos de crédito para particulares ou empresas, mas que é um caminho natural para escalar para produtos mais robustos.
Assim como os caminhos percorridos por Nequi, do Grupo Bancolombia; Dale, do Grupo Aval, também na Colômbia, e Yape do BCP, no Peru, o aplicativo Pichincha traça um plano a partir do mais básico.
“O que as pessoas fazem todos os dias? Pagar. Não importa o segmento, não importa onde você esteja, você paga todos os dias, então, é aí que você constrói o seu ecossistema”, observa.
“Depois você tem vários milhões de clientes ocupando sua plataforma todos os dias e é aí que você adiciona alguns outros serviços, porque como eles estão lá, é preferível que levem conosco aqui e não levem para o outro lado”, conclui.