A rede varejista Falabella descarta que a não aceitação de cartões pré-pagos em seu portal de vendas online no Chile afete os consumidores e acrescenta que é uma decisão tomada considerando fatores técnicos e de investimento.
A sua posição surge na sequência de uma polémica entre algumas fintechs emissoras de cartões pré-pagos, como Tenpo, Tapp e Mercado Pago, que alegam que comerciantes, como Falabella e Walmart, afetam a inclusão financeira ao não aceitarem plásticos pré-pagos, em um episódio que deixa lições aprendidas sobre a evolução da dinâmica dos pagamentos no país, a importância do diálogo entre os diferentes intervenientes da indústria e o papel das instituições judiciais.
Falabella disse à iupana que aceitam os cartões nos pontos de venda físicos, mas que descartam a sua utilização no comércio eletrônico, porque não são amplamente adotados e porque envolvem um investimento tecnológico.
“Incorporamos gradativamente diversos meios de pagamento, começando pelos de maior penetração, visto que habilitá-los na plataforma exige integrações tecnológicas que envolvem investimentos”, respondeu a empresa por escrito.
“A proposta de valor que temos para os clientes inclui uma experiência integrada no site, que evita que sejam redirecionados para outra página web durante o processo de compra”, continua.
Falabella sustenta que as compras realizadas com cartões pré-pagos representaram apenas 1,3% do volume total de pagamentos realizados com plástico em fevereiro. O débito atingiu 64,3% e o cartão de crédito, 34,3%.
O Walmart se recusou a fornecer comentários solicitados por iupana.
Cartões pré-pagos: muita emissão, pouca utilização?
O Chile, um país com 20 milhões de habitantes, lidera em termos de penetração bancária e de cartões na região. Mais de 80% de sua população possui conta poupança e cartões de crédito ou de débito.
De acordo com números de janeiro, a emissão de cartões de débito é de 27 milhões; de crédito, quase 16 milhões; e, nos cartões pré-pagos, o indicador ronda os 9 milhões, segundo a Comissão do Mercado Financeiro (CMF), o regulador de fintechs e bancos.
O FinteChile, sindicato que reúne as empresas com foco no varejo, estima que a limitação aos cartões pré-pagos cause prejuízos anuais de até US$ 73,2 milhões. Além disso, alega que o baixo volume de utilização de cartões pré-pagos leva a uma aceitação limitada nas lojas.
“Eles não estão melhorando as condições ou a qualidade de vida das pessoas. O que eles estão fazendo, sem querer, é um enorme dano à sociedade”, disse à iupana José Carrasco, presidente do FinteChile e CEO da Tapp, emissora de cartões pré-pagos afetada pela decisão das redes.
A investigação realizada pelas empresas indica que as restrições envolvem a omissão de 15% dos pagamentos nas vendas no varejo e que, desse total, as grandes redes varejistas são responsáveis por mais da metade das rejeições.
Expectativas na decisão judicial
Em agosto, o Mercado Pago expressou ao Banco Central do Chile sua preocupação com os baixos níveis de aceitação de cartões pré-pagos, apontando para o Walmart e suas subsidiárias.
Carrasco, do FinteChile, observa que, em um momento, cadeias de varejo afirmaram que aceitar pré-pagamento era caro. “É difícil, para mim, entender uma explicação em termos de custo, quando os cartões pré-pagos no Chile têm, na verdade, um custo menor para as empresas do que os cartões de crédito”, diz ele.
Ele acrescenta que, apesar das muitas iniciativas das fintechs afetadas de terem mesas de diálogo, infelizmente, não geraram mais do que trocas de alguns emails. Falabella esclarece tem abertura e que não descarta aceitar os cartões em sua plataforma web.
“Os cartões pré-pagos ainda não são muito utilizados e sempre estivemos dispostos a dialogar e gerar pontos de encontro com todos os players do mercado”, responde a empresa chilena com presença no Peru e na Colômbia.
Após quase quatro anos de discussão, a solução para a polêmica no Chile viria do lado judicial. “Há uma decisão judicial no Supremo que pode obrigar as empresas a aceitarem ou não cartões pré-pagos. “Estamos aguardando isso”, destaca Cristian Reyes, advogado e conselheiro do sindicato fintech do Chile.
“Estima-se que a decisão seja emitida no mais tardar em maio ou junho, porque estão preparando a sentença há cerca de seis meses”, afirma.