Na busca pela construção de um ecossistema de serviços, a fintech brasileira Creditas adquiriu, em 2021, a corretora digital Minuto Seguros e o marketplace de carros usados Volanty, operações que a distanciou de seu core de crédito, mas permitiu aderir a uma tendência crescente: seguro embarcado.
Agora, a empresa diz que se aproxima do seu ponto de rentabilidade, em parte, devido à sua incursão no segmento que, embora menos marcante que outros produtos financeiros como pagamentos ou investimentos, representa uma oportunidade graças à distribuição por meio de canais digitais.
“[Vender seguros] nos aproxima ainda mais do break even (limiar de rentabilidade), gerando mais renda e também aumentando o número de clientes, porque aqueles clientes que entram como seguros— a Minuto Seguros veio com algumas dezenas de milhares de clientes — também começaram a comprar produtos financeiros”, revela Marcia Camacho, diretora de seguros do unicórnio e que liderava as operações da Minuto Seguros na época da aquisição.
“A unidade de seguros está praticamente no break even. Então, proporciona mais linhas de renda para o ecossistema como um todo”, acrescenta em entrevista à iupana.
E, embora a penetração de seguros na América Latina seja de apenas 3,2% da população, esta é a região com o maior crescimento nas vendas de apólices, de acordo com um relatório da McKinsey deste ano. Vender seguros tem se mostrado um desafio, mas as insurtechs e fintechs acreditam que podem preencher a lacuna com produtos digitais personalizados e incorporados em outros serviços: como um bônus na compra de um carro ou um adicional contratável na carteira.
Em um exemplo de como funcionam essas vendas cruzadas, Camacho diz que o seguro de automóvel vem da venda de carros gerada pela mesma empresa. “Como corretores de seguros, intermediamos informações para o nosso ecossistema. Por exemplo, os clientes de seguros de automóveis ganham um desconto em cada renovação, que são chamados de bônus. O bônus é apenas para esse cliente. Tem que personalizar para que, independente da seguradora que você esteja, tenhamos acesso a esses dados”, afirma.
De acordo com seus últimos resultados financeiros, a fintech brasileira está reduzindo seu gap negativo trimestre a trimestre, desde o quarto trimestre de 2021, quando reportou prejuízo líquido de R$ 363 milhões (US$ 74,6 milhões) ante R$ 81 milhões (US$ 16,6 milhões) do terceiro trimestre do ano corrente.
Oportunidade de crescimento
Embora a Creditas ainda não possua integrações com terceiros ou modalidade insurtech as a service (IaaS), essa será uma de suas apostas para 2024, antecipa a executiva, reconhecendo que associações e colocação de produtos via APIs também são uma fórmula que ganha corpo.
“Insurtech as a service (IaaS) e seguro incorporado são os que têm mais não só potencial, mas também a maior realidade hoje em termos de crescimento”, aponta à iupana Martín Ferrari, cofundador e CEO da 123Seguro, corretora digital que atua em Argentina, Colômbia, Chile, Brasil e México.
A insurtech com 13 anos de atuação possui um produto chamado +123, uma API (interface de programação de aplicativos) que pode ser integrada ao site ou aplicativo de uma empresa de qualquer setor, o que tem permitido ampliar seu alcance e aumentar a contratação de apólices de seguros. Aliás, o porta-voz garante que é o seu canal mais vendido: +123 representava, em 2022, 45% da sua carteira de clientes. E, até o momento, é de 60%.
Por exemplo, ampliaram recentemente uma parceria com o Grupo Supervielle da Argentina que, apesar de ter uma seguradora própria, adicionou a 123Seguro para inserir o seguro automóvel de terceiros. A insurtech também possui outras integrações semelhantes com Tenpo, Cencosud ou Betterfly.
“[Na Supervielle] identificaram, para ter uma boa proposta de valor para seus clientes, que o melhor era fazer uma aliança conosco e oferecer seguros de automóveis com as seguradoras líderes do segmento”, afirma Ferrari.
Seguro aberto e personalização de produtos
A implantação de open insurance, um sistema de abertura de informações transacionais dos usuários de seguros, poderia ser essencial para melhorar a competitividade e a penetração do setor. Contudo, a regulamentação nesta matéria, muitas vezes associada ao open finance, avança lentamente na região. O Brasil é o país que apresenta maior progresso.
Enquanto isso toma forma e dá força ao segmento, a indústria realiza discussões por sua parte para gerar um ecossistema de informações abertas sobre seguros.
“Está sendo promovido o open insurance, que, mais do que uma regulamentação, é um padrão de nomenclatura para que as seguradoras que decidam dar esse salto para o uso de APIs ou do mundo digital possam ser padronizadas para conexão com insurtech ou outras startups e bancos”, revela Kathia Ramírez, gerente de operações e alianças da Associação Insurtech do México, um sindicato com 70 membros.
A partilha de dados pode ajudar a impulsionar as vendas quando o vencimento se aproxima ou a aplicar descontos, tudo com o objetivo de criar produtos personalizados que se adaptem às necessidades dos usuários e facilitem as vendas.
Ramírez explica que a baixa penetração dos seguros na região é consequência das características do produto, pois as pessoas interpretam que é apenas um benefício tangível no momento do sinistro, quando na realidade podem ser utilizados de diversas maneiras: para consultas de odontologia, para obter descontos na compra de medicamentos ou para optar por aconselhamento jurídico em caso de acidente de trânsito, por exemplo.
“Principalmente, para algumas novas gerações, que buscam produtos mais personalizados, mais especializados, que percebam que suas necessidades estão sendo atendidas”, afirma a especialista. “Temos o caso de diversas insurtechs que, através dos meios digitais, não só fornecem seguros, mas também prestam serviços adicionais, para levar uma saúde financeira completa.”