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O futuro das finanças na América Latina e no Caribe

As telcos não são apenas redes. Seu novo negócio é fintech

out 16, 2023

Por Antony Pinedo

Bitel e Claro explicam que estão desenvolvendo suas verticais financeiras para atender às necessidades dos clientes e de receitas. No entanto, desafios de rentabilidade e regulação aparecem no caminho

 

Em um exemplo claro da reviravolta no negócio de telecomunicações, as operadoras de telefonia Bitel e Claro lançaram suas soluções fintech na região como estratégia para ampliar sua oferta, ao mesmo tempo em que reformulam seus modelos de negócios em busca de mais rendimentos.

Embora a incursão das empresas de telecomunicações no setor financeiro não seja nova, trata-se de uma segunda onda. Agora, as empresas procuram impulsionar as suas capacidades operacionais e financeiras para expandir a sua rentabilidade, em um contexto em que os dados substituíram as chamadas e o faturamento das mesmas é insuficiente face aos novos hábitos dos consumidores, que preferem, por exemplo, o WhatsApp.

Antes das fintechs existirem como as conhecemos hoje, operadoras de telecomunicações já vislumbravam fornecer serviços financeiros, atuando como carteiras digitais. Apesar do vasto alcance das telcos no Brasil, chegando às zonas urbanas e rurais, os projetos daquela época — mais de uma década atrás — acabaram não vingando como planejado, principalmente, por questões regulatórias.

No entanto, as companhias telefônicas têm décadas de liderança na penetração urbana e rural: uma força que pretendem capitalizar para o desenvolvimento do seu modelo fintech. Nesta expansão, reconhecem, a regulação estabelecerá os limites e as oportunidades.

“Temos a maior rede de fibra óptica do Peru, o que nos permite chegar a lugares bastante remotos”, disse à iupana Judith García, vice-diretora da área fintech da Bitel no Peru. “Além disso, a Bitel tem uma forte base de clientes na província, na selva. São locais onde até vemos que ainda não existe uma presença bancária necessária e as pessoas continuam a utilizar o dinheiro como principal meio de pagamento”, acrescenta.

A Bitel é uma subsidiária do Viettel Group, uma empresa vietnamita de telecomunicações com presença global. No Peru, especializaram-se no atendimento ao interior do país, com foco na nova carteira digital — BiPay — direcionada à base da pirâmide econômico-social.

Mas sua história é mais antiga. Em 2018, tentaram lançar uma carteira digital por meio de uma aliança com a empresa G-Money, regulamentada como emissora de dinheiro eletrônico (EEDE), licença que permite administrar dinheiro pelo celular. A aliança não prosperou.

No ano passado, iniciaram um novo projeto que está em fase piloto e com lançamento previsto para dezembro, sob licença de provedora de carteira digital (PBD), uma licença que permite aos clientes efetuarem transferências e pagamentos a partir de uma conta.

 

De ligações a empréstimos

Segundo dados da empresa, o Bitel possui 7 milhões de usuários, primeiro segmento a ser atingido com o BiPay. Esta é a primeira incursão formal de uma empresa de telecomunicações em fintech no Peru.

O conceito de carteira digital, como produto, conta com marcas maduras na região, como Ualá ou Nubank. Até os próprios bancos lançaram suas spin-offs para modernizar o relacionamento com os clientes e atrair públicos que não lhes são naturais. Seguindo este modelo, as companhias telefônicas procuram acrescentar valor em espaços não bancarizados, como áreas remotas.

Para Andrés Albán, CEO e fundador da Puntored, plataforma de pagamentos colombiana que tem como clientes empresas de telecomunicações como Movistar e Tigo, esta incursão nas arenas financeiras digitais é uma busca para recuperar receitas, embora o investimento inicial seja alto.

“Isso lhes custará caro e eles estão investindo pesadamente, mas eles sabem que o negócio de telecomunicações mudou radicalmente. Hoje em dia, o faturamento por voz é impossível. Com os dados, eles fazem seus negócios, mas não têm a rentabilidade que tinham há alguns anos”, afirma Albán.

“As empresas de telecomunicações estão em processo de reinvenção. E, nesse sentido, isso é bastante adequado para que possam prestar outros tipos de serviços aos seus clientes e apoiar a evolução do seu modelo de negócio”, afirma.

 

O caminho para alcançar rentabilidade

Outra iniciativa na região é a proposta da Claro, empresa mexicana que apresentou o Claro Pay em quatro mercados da região: México, Brasil, Colômbia e Argentina.

Neste último, o Claro Pay está disponível ao público desde janeiro de 2022 e até o momento conta com 300 mil usuários com modelo web de envio e recebimento de pagamentos, ao qual será adicionado o aplicativo mobile na próxima semana.

Os entrevistados reconhecem que uma fintech focada apenas em pagamentos tem uma margem de rentabilidade baixa, mas, com maior volume de rendimento, torna-se cada vez mais interessante.

No entanto, a empresa de telecomunicações mexicana destaca que o próximo passo é o financiamento.

“Estou convencido de que o financiamento é um recurso, uma necessidade ilimitada, principalmente, diante de tudo o que está acontecendo em nossa região, pois temos grandes quantidades de público desbancarizado”, afirma Martín Sourigues, líder da Claro Pay na Argentina.

O executivo acrescenta que a diretriz da empresa é cobrir pagamentos, investimentos e créditos.

“Começamos a montar modelos próprios com informações das operações que esses clientes têm dentro da empresa e conseguimos ter pontuações de risco com valores muito parecidos com os dos bancos”, complementa o executivo.

 

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Lidando com a regulamentação

Mas o lançamento de produtos financeiros anda de mãos dadas com a conformidade com as questões regulatórias.

No caso da operação peruana da Viettel, a rota mais curta é a de PBD, já que a opção de operar como EEDE levaria cerca de dois anos. Porém, a licença do provedor de carteira é básica e não permite saques em dinheiro; por isso, a carteira procura um parceiro, seja outra fintech ou banco EEDE, para habilitar esta função para seus usuários finais.

“Atualmente, a regulamentação é bastante limitante para fintechs ou facilitadores tecnológicos e isso ocorre porque cada entidade, como a Superintendência de Bancos e Seguros e AFP, o banco central ou o próprio SUNAT (órgão público de arrecadação de impostos), trabalha em regulamentações separadas e há dissonância entre eles”, diz a vice-diretora Judith García.

Ela acrescenta que, ao bater na porta dos bancos, também falta rapidez no atendimento de suas ligações.

“A integração com os bancos também é lenta e cara, ainda não vemos progresso quando se trata de open banking. Ao mesmo tempo, notamos uma questão de conflito de interesses quando descobrem que queremos lançar este tipo de solução”, revela García.

 

"Nós não estamos atrasados."

Isso não desanima o setor, já que dizem ter um histórico de competição com os grandes.

“Vamos focar primeiro nas áreas mais remotas, onde não há muita presença de bancos, mas onde a Bitel tem capilaridade de pontos de venda que serão nossos agentes”, observa García, da Bitel Peru.

Na Argentina, a Claro Pay, além de querer sair na frente de um grande grupo de carteiras como Mercado Pago ou Naranja X, também vai concorrer com a proposta da empresa com maior número de usuários, a Telecom Argentina, com seu produto Personal Pay.

A Telefônica também tem produtos de crédito pessoal no Brasil. O Vivo Money é uma plataforma digital com serviços financeiros, como empréstimo pessoal de até R$ 50.000,00 e crediário para compra de smartphones. Tem ainda o Vivo Pay, uma conta digital que oferece cartão virtual pré-pago, transferências e pagamentos.

“Gosto de dizer que esta é uma corrida de longo prazo”, afirma Sourigues. “Não viemos com a ideia de ver o que acontece ou ficar alguns anos, mas entendemos que este é um projeto que deve ser construído e desenvolvido ao longo do tempo”, conclui.

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