De uma geradora de energia renovável no Brasil a escritórios de contabilidade na Colômbia: novos players não financeiros estão incorporando a oferta de produtos bancários em seus portfólios, por meio de alianças em modelos de banking as a service (BaaS).
A aposta se fortalece em um ambiente impulsionado pela demanda dos usuários por produtos financeiros de pagamento, poupança ou crédito embutidos nas plataformas digitais de indústrias que, tradicionalmente, não oferecem esses serviços. E também pela busca de fidelização de clientes e melhores experiências de navegação.
O BaaS é um modelo de negócio que para as entidades fornecedoras se traduz em uma fonte de diversificação de receitas, enquanto quem contrata o banco como serviço agrega valor à sua oferta principal. Assim, prevê-se que a tendência continue a crescer: espera-se que a incorporação de banco como serviço deva crescer a um ritmo consolidado de 20% entre 2023 e 2027, segundo estimativas da empresa Technavio.
Pensando nisso, apontamos três casos de uso atualizados de bancos e fintechs que estão usando BaaS para fortalecer sua estratégia de negócios:
Banco Original usa sua plataforma BaaS para gerar volume de negócios
Pioneiro no Brasil ao permitir a abertura de conta totalmente pelo celular, o Banco Original vê no BaaS um mercado com potencial. “O Original desenvolveu muita tecnologia, soluções baseadas em APIs que permitem a interoperabilidade de dados nos sistemas e o desenvolvimento de capacidades. À medida que os produtos foram ficando mais robustos, percebeu que poderia ir mais longe”, diz Alex Conceição, head de banking as a service do Original HUB.
O BaaS, como um conceito de negócio, já existe há algum tempo. No entanto, vem ganhando forma e nome desde 2021, porque, como explicou Conceição, os bancos começaram a perceber que poderiam explorar suas plataformas tecnológicas para gerar novas fontes de renda.
A oferta de BaaS do Original começou em 2019 e rapidamente ganhou força. “Em 2020, virou um projeto de expansão e ganhou força ano a ano”, completa.
O Original HUB possui uma equipe dedicada de produtos, vendas e suporte com foco no segmento B2B. Sua principal oferta é o pagamento de contas e faturas, como impostos e consumo. Eles também possuem um produto Pix como meio de pagamento, o Pix Cobrança, que gera um QR Code válido e identificado de forma única e é utilizado pelos lojistas. “Temos muitas empresas que usam essa solução integrada ao seu ERP [software de planejamento de recursos empresariais], que está se convertendo em internet banking”, explica Conceição.
O ERP Banking, como já apontou iupana, está em plena expansão, principalmente no Brasil, devido à sua capacidade de adaptação às mudanças nas necessidades das empresas para oferecer suporte financeiro preditivo.
A aposta do Original já trouxe resultados. A divisão de tecnologia B2B da Original dobrou sua operação em 2022 e fechou o ano com R$ 50 bilhões movimentados (cerca de US$ 10 bilhões) e aproximadamente 500 milhões de chamadas de API (transações).
Uma das promessas de expansão do BaaS está nos produtos relacionados à infraestrutura do Pix. “É uma grande aposta, porque o Pix fez uma revolução com a facilidade de fazer pagamentos na hora e o segredo foi não cobrar do particular. Existe uma agenda para a evolução do Pix e vamos continuar com essa evolução do regulador, ampliando a funcionalidade do Pix”, aponta o head.
Quem vai liderar esse mercado? Para Conceição, o BaaS vai na direção de coopetição, com muitos bancos apoiando seus produtos nos produtos de outros bancos. “Porque chega uma hora que, se todos os bancos investirem em tudo, é contraproducente. Vejo cada vez mais bancos integrando seus produtos. As alianças vão se intensificar muito.”
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2W Ecobank contrata BaaS para ampliar conveniência para seus clientes
O modelo BaaS também está se expandindo como alternativa para empresas que não possuem experiência bancária para oferecer produtos e serviços financeiros a seus clientes. Essa estratégia cresce como parte de ações de fidelização ou para aumentar a experiência e satisfação do usuário.
É o caso da 2W Ecobank, geradora e fornecedora de energia renovável brasileira, que também passou a oferecer serviços financeiros. Seu negócio principal é a venda de energia renovável para pequenas e médias empresas (PMEs). A empresa tem dois grandes parques eólicos no Nordeste do Brasil, onde já investiu, segundo seu CEO, Claudio Ribeiro Ribeiro, cerca de R$ 2 bilhões (US$ 396 milhões).
“Nosso principal negócio é vender energia renovável. Mas a plataforma tem parceiros para oferecer outros serviços para que o cliente fique motivado e possamos proporcionar comodidade. Entendemos que só o preço não é suficiente, temos que agregar mais", explica o executivo, acrescentando que a empresa vende contratos de energia de no mínimo cinco anos, o que barateia o custo do consumo e ainda tem o "selo de origem da energia renovável”.
Graças às recentes mudanças regulatórias, empresas como a 2W poderão vender energia para pequenos consumidores a partir de janeiro de 2024. E, com isso, abre-se um novo — e gigante — contingente de mercado, já que, até agora, PMEs e clientes residenciais só podiam consumir energia adquirida na concessionária de sua região.
Mas onde entra a oferta bancária? Ribeiro explica que descobriram que, quanto menor o consumidor, não adianta olhar apenas para o preço de venda da energia. Para concorrer com alguma vantagem, é preciso oferecer um portfólio com serviços complementares, inclusive financeiros.
No detalhe, o 2W Ecobank é uma fintech, mas não possui licença do Banco Central do Brasil. Para isso, contrata um serviço BaaS, com o qual os clientes têm acesso a uma conta no 2W Ecobank. O CEO explica que, por trás da plataforma, existe um banco que faz todas as operações: transferências, depósitos, pagamento de faturas e pacotes Pix.
Assim, toda a operação de seu front-end (a interface da plataforma) pertence à 2W, enquanto o back-end (operação bancária) permanece com um provedor de BaaS. A empresa não revela o nome do provedor, mas Ribeiro diz à iupana que é um dos quatro maiores bancos do Brasil.
Futuramente, o plano é adicionar também ofertas de crédito. “Acabamos por ser um canal comercial para o banco e isso faz sentido para nós, ainda que, neste primeiro momento, seja um custo. Vale a pena pelo pacote de comodidade, pois posso trazer mais serviços. Nossa ideia para o futuro não é apenas ter serviços transacionais de bancos, mas também oferecer linhas de crédito para esse cliente que entrou no mundo da sustentabilidade e auxiliá-lo na transição energética”, completa o CEO.
Dessa forma, o 2W Ecobank também acessa uma maior fonte de informações sobre seus clientes, com a qual pode traçar linhas mais personalizadas para eles.
Fintech de empréstimo Plurall usa BaaS para alcançar clientes PME
A Plurall é uma fintech focada em micro, pequenas e médias empresas colombianas, com oferta de contas de poupança e financiamento para elas. Também está iniciando o desenvolvimento de sua API para integração com outras plataformas que oferecem soluções para esse segmento de empresas, visando à distribuição de produtos financeiros por meio desse canal adicional.
A fintech pisou no acelerador após realizar um piloto em parceria com um escritório de contabilidade para PMEs, experiência que as animou a estimar que até 70% de seus clientes poderiam ser captados com essa estratégia.
“É a forma de articular esforços entre vários players que estão no mesmo negócio, para servir este nicho e que se torna um canal muito eficaz ao nível do custo de aquisição de clientes. É realmente um ganha-ganha para todos”, diz Federico Gómez, cofundador e CEO da Plurall, à iupana.
O executivo revela que, em dois meses, 124 pequenas empresas (como armazéns de bairro ou lojas de bricolagem) se inscreveram por meio da plataforma parceira. Dessas, 33 empresas seguiram o processo e 19 empréstimos de US$ 350 em média foram desembolsados.
Atualmente, o piloto evoluiu para um projeto abrangente dentro do negócio e abordaram outras cinco plataformas similares onde estão colocando serviços. No entanto, a Plurall esclarece que, embora tenha interesse em continuar ampliando sua integração com terceiros, a organização dos dados desses parceiros é de grande valia para eles.
“Não procuramos plataformas de distribuição, procuramos dados. Um cliente só é útil para nós se sua plataforma tiver dados suficientes. Se uma plataforma tem clientes, mas não tem dados, podemos não nos interessar”, destaca o CEO.
O processamento de dados e o ajuste dos modelos de risco permitem que eles afinem suas estratégias, mantendo as margens saudáveis do portfólio; algo que outras fintechs dedicadas ao crédito também estão aplicando com bastante ênfase na região.
Em uma amostra das variações que o modelo BaaS pode ter, a fintech atua na Colômbia como cliente da dale!, entidade do Grupo Aval que oferece serviços bancários como serviço, para emissão de cartão de débito. Enquanto, ao mesmo tempo, operam como fintech as a service (FaaS) que coloca finanças incorporadas em outras plataformas de parceiros.
A fintech diz que essa estratégia permite criar escala, embora ainda esteja trabalhando na otimização de problemas de experiência do usuário. Pela regulamentação do país, a entidade regulada que suporta as operações da fintech deve ser claramente divulgada, mesmo que isso interrompa a navegação do cliente por meio de pop-ups ou alterações de layout.
“Temos que ter cuidado com as marcas”, diz Gómez. "Existe a obrigação de afirmar que trabalhamos em parceria, isso também está sendo exigido de nossos aliados", acrescenta.
O segundo obstáculo é que é necessário um duplo onboarding digital para solicitar a contratação de um produto: na plataforma do parceiro e na da Plurall.
“Nisso ainda não conseguimos otimizar, mas a ideia é conseguir chegar a um ponto em que não haja tanto reprocessamento”, afirma.
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