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BNPL vai pegar no Brasil?

maio 30, 2022

Por Roberta Prescott
BNPL

A modalidade de crédito que ganha força nos países do continente ainda não virou febre no Brasil. A explicação pode estar na ampla opção de crediários já existentes no País

O brasileiro está acostumado a parcelar suas compras, mesmo as de valor baixo, seja na forma de crediário diretamente com as redes varejistas, seja por meio de parcelamento via cartão de crédito — atualmente em desuso, existe ainda a opção de dividir o valor por meio de cheques pré-datados. Por isso, a modalidade “buy now, pay later” (BNPL ou compre agora e pague depois, em português), que ganha força no continente americano, não virou febre no Brasil.

No entanto, ainda que a sigla BNPL não tenha se popularizado no País, especialistas entrevistados por iupana disseram acreditar que há espaço para a modalidade. “Bottom-line é que, no Brasil, estamos acostumados com crediário e estamos à frente de outros mercados”, pontua Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem. Até por causa disso, o BNPL não vem causando, no Brasil, o buzz e a empolgação como em outros países da América Latina.

“A gente tem uma situação no Brasil que é diferente do que se tem em outros países, pois sempre tivemos parcelamentos no cartão e crediário. No fundo, BNPL é um crediário digital. Lá fora, estão achando que inventaram a roda, mas a gente faz isso há 60 anos por aqui”, resume Carolina Rezemini, diretora-regional de vendas para a América Latina da Credolab, startup de Singapura especializada em análise de crédito.

Mesmo sem o componente novidade para essa modalidade de crédito, o BNPL pode, de fato, se tornar uma alternativa interessante. O grande elemento é a desintermediação, uma via alternativa que não segue os modelos de cartão de crédito ou de crediário. “Quando se fala em BNPL, se fala de uma avaliação de risco diferente e de uma forma a mais para se parcelar”, avalia Bruno Diniz, explicando que o BNPL traz benefícios para os lojistas, que passam a contar com uma alternativa conveniente ao consumidor para a aquisição de seus produtos, aumentando a taxa de conversão no check-out e, com o passar do tempo, levando à fidelização e à recorrência.

Para os varejistas, o BNPL significa ofertar uma nova condição de pagamento, aumentando as chances do cliente efetivar a compra. “É uma alternativa viável, mas que demanda uma análise diferente daquela que é feita pelo cartão de crédito e precisa ter cuidados adicionais”, assinala Rezemini. Nesse cenário, plataformas especializadas e fintechs focadas em BNPL fazem a avaliação do perfil do comprador, usando, por exemplo, técnicas de analytics.

Do lado dos clientes, o BNPL pode preencher a lacuna de conceder crédito a não-bancarizados e atender àqueles que não têm cartão de crédito ou não querem comprometer

o limite do cartão ou, ainda, não tenham acesso a parcelamentos. “Quem ganha é quem não tem acesso a crédito, porque poderá usar outro meio de pagamento”, diz Carolina Rezemini, da Credolab.

Segundo ela, como o uso do cartão para fracionar débitos não é acessível a todos, o crediário tradicional, mesmo com juros, acabava sendo a única escolha para uma parcela da população poder adquirir bens mais caros. “Com a crescente digitalização, os clientes passaram a buscar meios online para pesquisar produtos de alto valor; e a oferta de opções de financiamento online passou a ser fundamental para ganhar a escolha do consumidor”, assinala.

“Nada mais natural, então, que surgisse uma alternativa que reunisse características de boletos e do cartão de crédito com benefícios tanto para vendedores quanto para os compradores e seus anseios: o chamado “buy now, pay later” (BNPL), que nada mais é que um crediário digital”, completa a executiva.

Gastão Mattos, sócio-fundador da Gmattos Consultoria, explica que o BNPL nasceu nos Estados Unidos como uma tentativa de preencher uma lacuna. “Se percebeu que, para alguns tipos de aquisição, seria interessante ter algo diferente do crédito rotativo (revolving), porque, até então, a única possibilidade de financiamento era com juros. Ofertar, por exemplo, um parcelamento com período máximo definido e isso nasceu fora dos principais bancos, nasceu em fintechs fazendo a desintermediação no check-out da loja, oferecendo a possibilidade de parcelamento”, detalha.

No Brasil, não há necessidade de preencher essa lacuna. Contudo, Mattos pontua que o parcelamento no cartão é “vala comum” e que, por ser igual e comum a todos, não consegue ofertar condições diferentes. “Isso gerou a demanda para desenvolver financiamento alternativos”, assinala.

O consultor acredita que a introdução do BNPL no Brasil pode aumentar a competitividade principalmente para vender soluções a lojistas, que hoje pagam altas taxas para oferecer pagamento — e parcelamento — via cartão de crédito aos seus clientes. Para Gastão Mattos, fornecedoras de soluções de BNPL podem ganhar mercado se ofertarem taxas menores de antecipação.

Ele diz que tem avaliado as práticas de pagamento nas principais lojas e tem visto aumentar os incentivos para pagamento por meio do Pix. Mas BNPL já está no radar. “Observamos grandes bancos iniciando ofertas e redes varejistas, como a Via, que, nitidamente, está investindo muito na área de crediário direto. A Casas Bahia também está investindo em crediário próprio, com financiamento direto e está se tornando cada vez mais digital”, exemplifica.

Do lado de fintechs, Mattos adiantou que fintechs brasileiras têm planos de se lançar nesse mercado, porque tem demanda dos varejistas e dos consumidores. “Vai ter sucesso quem conseguir desenvolver uma engrenagem, um motor que consiga tratar a demanda existente de forma que seja lucrativo”, pontuou o consultor.

Pix garantido

Além das formas existentes de parcelamento, o Brasil ainda terá o Pix Garantido, que, basicamente, é um agendamento irreversível de um Pix. Para isso ocorrer, é necessário contar com uma instituição financeira habilitada para intermediar a transação. Essa instituição garantirá que o pagamento seja efetuado na data agendada se a conta do usuário não tiver saldo suficiente. A expectativa é que o Pix Garantido entre em vigor ainda em 2022.

Para Bruno Diniz, da Spiralem, o BNPL pode ganhar força no Brasil, se embutido no Pix Garantido. “O BNPL vem escalando organicamente no Brasil e, com as mesmas premissas que vemos lá fora, ele pode demorar. Mas, quando se colocar possibilidade de parcelamento no Pix, ele pode se espalhar muito fortemente, porque as pessoas já estão usando o Pix. Os bancos mesmos vão explorar a possibilidade; a concorrência será ampliada; os comerciantes e varejistas ganham. É ferramenta fundamental para o varejo”, avalia o sócio da consultoria Spiralem.

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