Neste ano, o setor fintech na América Latina atraiu a atenção de grupos de investimento, houve megarrodadas, novos unicórnios cresceram, novos fundos de investimento foram formados e a indústria foi se consolidando. Para 2022, são esperados ainda mais marcos.
Os investimentos em fintechs na América Latina atingiram US$ 9,8 bilhões em setembro último, representando um aumento de 211% em relação ao total de 2020, de acordo com os números da CB Insights.
“A tendência é subir, acho que podemos até bater os recordes deste ano”, disse Jorge González, sócio geral da G2 Momentum Capital, um fundo mexicano de investimento inicial, à iupana.
O número de startups também está crescendo; portanto, há mais oportunidades de investimentos para vir para a região, acrescentou ele.
A este respeito, González disse que, embora os investimentos estejam concentrados no Brasil, México, Argentina e Colômbia, devido ao tamanho e à maturidade de seus ecossistemas iniciais, o mais importante é a ideia do projeto e não a sua nacionalidade.
“dLocal, do Uruguai, não se tornou um unicórnio, porque ser ou deixar de ser uruguaio, mas por causa de seu modelo de negócios e se e como a empresa é boa”, diz ele.
Para que você possa encerrar o ano com as coisas claras, preparamos uma lista das rodadas de investimentos mais importantes de 2021.
Megarrodadas das fintechs na América Latina em 2021
O termo mega round — ou megarrodada — está sendo cada vez mais utilizado no setor fintech da América Latina. Mas como é definido? Para nós, uma megarrodada é um aumento de capital de mais de US$ 400 milhões.
Dito isto, aqui estão algumas das megarrodadas deste ano:
Nubank
O neobank brasileiro fechou o ano como a instituição financeira de maior valor na América Latina, com uma capitalização de mercado de US$ 52 bilhões, após fazer sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York na semana passada. Ao completar sua oferta pública inicial, o Nubank arrecadou US$ 2,602 bilhões.
Além disso, durante 2021, levantou US$ 1,15 bilhão de dólares de grandes fundos.
Em janeiro, o Nubank havia levantado cerca de US$ 400 milhões em sua rodada G, com a participação de um grupo de fundos de capital públicos e privados como o GIC, Whale Rock e Invesco.
O unicórnio ampliou a série em junho e conseguiu levantar mais US$ 750 milhões, dos quais US$ 500 milhões vieram do fundo Berkshire Hathaway, de propriedade do bilionário norte-americano Warren Buffett.
Kavak
A fintech mexicana de financiamento de carros usados Kavak levantou US$ 700 milhões em junho. A rodada da Série E foi liderada pelo fundo americano General Catalyst.
Após o investimento, Kavak tornou-se o segundo unicórnio mais valorizado da América Latina, com US$ 8,7 bilhões, atrás apenas do Nubank. Kavak também tem presença na Argentina e no Brasil.
EBANX
A plataforma de pagamentos internacionais EBANX fechou uma megarrodada de US$ 430 milhões do fundo Advent International, que se tornou um parceiro minoritário da fintech brasileira.
A transação ocorreu em junho e, como o CRO da EBANX, Wagner Ruiz, disse à iupana, os recursos serão utilizados para aquisições na região e para expandir no mercado de pagamentos local.
Outras rodadas a considerar
- A fintech mexicana de empréstimos BNPL (compra agora, paga mais tarde) Kueski levantou US$ 202 milhões de capital e dívida em uma rodada da Série C liderada por fundos StepStone Group Inc e Victory Park Capital. O financiamento foi em novembro e a fintech espera expandir suas operações no México.
- Stori Card, fintech mexicana que oferece cartões de crédito, recebeu uma rodada de US$ 200 milhões em novembro, divididos em US$ 125 milhões em patrimônio líquido e US$ 75 milhões em dívidas. O capital da rodada foi liderado pelas empresas GGV Capital e GIC.
- Por outro lado, o superapp colombiano Rappi, que também está envolvido em produtos financeiros, recebeu uma rodada de US$ 500 milhões da Série F neste ano, liderada por T. Rowe Price.
Você também pode estar interessado em: Finanças incorporadas na América Latina: A chave estará nas alianças
Novos unicórnios fintech na América Latina
Há uma década, pensar em uma empresa fintech regional avaliada em mais de US$ 1 bilhão era apenas isso, pensar em um unicórnio: uma figura mítica e fantasiosa. No entanto, 2021 nos deixa com pelo menos 10 novas empresas latino-americanas bilionárias concentradas principalmente no Brasil, México e Argentina.
É também digno de nota que várias das rodadas são lideradas pelos mesmos fundos, como o Softbank, do Japão; o Coaute, dos EUA, e o Tencent, da China. Aqui estão alguns dos principais movimentos:
CloudWalk
A rede de pagamentos brasileira CloudWalk, proprietária da InfinitePay, levantou um total de US$ 340 milhões neste ano e tornou-se um unicórnio depois de atingir uma valorização de US$ 2,15 bilhões.
A Série B, em maio, fechou em US$ 190 milhões e, em novembro, a fintech levantou sua Série C com US$ 150 milhões, ambas as rodadas lideradas pelo fundo Coatue Management.
Bitso
Bitso, uma fintech mexicana especializada em moedas criptográficas, fechou uma rodada de US$ 250 milhões da série C em maio e atingiu uma valorização de US$ 2,2 bilhões, tornando-a a primeira plataforma criptográfica latino-americana com um título de unicórnio. A rodada foi liderada pelas empresas Tiger Global e Coatue, com a coordenação da CFO da empresa, Barbara Gonzalez, que ganhou nosso reconhecimento como uma Disruptora 2021.
Clip
A fintech de pagamentos Clip fechou, em junho, um investimento da série D de US$ 250 milhões por parte de da SoftBank e da Viking Global Investors. Com a alavancagem, a fintech mexicana entrou no clube dos bilionários, alcançando uma valorização de US$ 2 bilhões.
Ualá
A carteira argentina Ualá levantou uma injeção de capital de US$ 350 milhões em agosto, o que resultou no fechamento de sua maior rodada e na obtenção de US$ 2,45 bilhões. A alavancagem foi liderada por Tencent e Softbank. A empresa continuou sua expansão no México neste ano com a compra de um pequeno banco; e tem como meta a Colômbia.
Konfío
A fintech mexicana especializada em empréstimos a pequenas e médias empresas recebeu um total de US$ 235 milhões em uma série E neste ano e foi estimada em US$ 1,3 bilhão.
A primeira parte da série atingiu US$ 125 milhões em junho e foi liderada pela empresa Lightrock. A rodada de prorrogação foi feita em setembro e levantou US$ 110 milhões liderados por fundos da Tarsadia Capital e QED Investor.
Clara
Dedicada a soluções de gestão empresarial, com menos de um ano de operações, Clara atingiu uma valorização de mais de US$ 1 bilhão, após receber um financiamento da Série B de US$ 70 milhões, liderado pela Coatue. A fintech, que planeja expandir para o Brasil, arrecadou pouco mais de US$ 100 milhões neste ano.
Você também pode estar interessado em: Aceleração de fusões e aquisições na fintech impulsiona rebundling financeiro
Novos fundos de investimento voltados para a América Latina
Os bons resultados da indústria fintech e o surgimento de propostas inovadoras fizeram com que os fundos globais vissem na América Latina uma oportunidade de trazer capital novo.
Representantes dos fundos Kaszek, Latitud e Kalei Ventures disseram, no Fórum Fintech Argentina 2021, realizado em novembro, que a tendência da América Latina de atrair investimentos não é passageira.
Marcial González, de Latitud, esclareceu que não são os investidores que estão batendo recordes, mas os empreendedores, uma visão compartilhada por Nicolás Berman, da Kaszek, que observou que os investimentos continuarão a vir, porque “a qualidade dos empreendedores é extraordinariamente diferente do que era há dez anos”.
Os investidores apontaram as amplas oportunidades de crescimento na região devido à alta porcentagem de pessoas não bancarizadas. Atualmente, quase metade da população adulta da região não tem um produto financeiro em mãos, de acordo com o Banco Mundial.
“Há muitas oportunidades para incorporar serviços financeiros ou criar empresas de serviços financeiros”, disse Tomas Braun, da Kalei Ventures.
Grupo SoftBank
O grupo de investimento japonês criou o SoftBank Latin America Fund II no valor de US$ 3 bilhões, em setembro, para financiar a criação de empresas tecnológicas na região.
O anúncio se seguiu ao forte desempenho do Fundo I, que, embora tenha representado apenas 5% do investimento global do grupo, registrou um ganho substancial de cerca de US$ 1,98 bilhão nos três meses até o fim de junho.
Kaszek
O fundo de capital de risco Kaszek levantou US$ 1 bilhão em maio para criar dois fundos de investimento para a região. O primeiro, de US$ 475 milhões, concentra-se nas fases iniciais, enquanto o segundo, de US$ 525 milhões, considera as fases posteriores.
QED Investors
O grupo QED Investors criou dois fundos no total de US$ 1,05 bilhão para financiar fintechs nos Estados Unidos, Reino Unido, América Latina e Sudeste Asiático. O primeiro fundo, de US$ 550 milhões, é destinado a empreendimentos em fase inicial, enquanto o segundo, de US$ 500 milhões, se concentra em projetos em fase de crescimento.
- Na mesma linha, Seaya Cathay Latam surgiu neste ano com um fundo de US$ 125 milhões para a região; e a Jaguar Ventures mudou seu nome para Wollef e abriu um terceiro fundo com objetivo de alcançar US$ 100 milhões.
2021 foi um ano recorde e os especialistas estão apostando que, no próximo ano, a indústria fintech continuará a crescer e amadurecer. O que você acha?
Você também pode estar interessado em: Fintech no Peru: novas regras podem abrir as portas para gigantes digitais da América Latina