A computação quântica deixou de ser apenas um conceito e os bancos peruanos começam a gerar alertas, pois observam com preocupação seu potencial para violar algoritmos de criptografia que hoje protegem pagamentos, dados confidenciais e redes blockchain.
Grande parte do setor bancário na América Latina depende de algoritmos como RSA e ECC para criptografar credenciais de clientes, validar transações digitais e autenticar pagamentos com cartões com chip ou contactless (EMV), o que gera inquietação entre especialistas que já antecipam cenários de vulnerabilidade se a computação quântica conseguir decifrar essas chaves em poucos minutos.
“Pensávamos que a computação quântica demoraria mais, mas já está aí”, comenta Maurice Frayssinet, gerente de Segurança Executiva do BCP, em conversa com a iupana, após participar do evento Fincrime & Cybersecurity, organizado pela provedora de tecnologia NTT Data.
Esse risco pode impactar atividades cotidianas, como autorizar pagamentos em lojas, realizar transferências a partir de aplicativos móveis ou assinar contratos digitais em blockchain, onde os sistemas de criptografia são a principal proteção para evitar fraudes e falsificações, o que preocupa os responsáveis pela segurança cibernética que já antecipam cenários de vulnerabilidade.
A computação quântica utiliza qubits, unidades que podem representar vários estados ao mesmo tempo para processar informações muito mais rapidamente e, potencialmente, quebrar algoritmos de criptografia.
Frayssinet complementa que o avanço da computação quântica poderia quebrar em minutos sistemas que antes eram considerados seguros e explica que há publicações acadêmicas que demonstram avanços concretos na decifração. Esse potencial vai além do setor financeiro e a recomendação é que até mesmo os governos fiquem atentos.
“Dentro dos governos, também devem ser gerenciados projetos com esse objetivo”, alerta o especialista, insistindo na necessidade de se preparar para esse novo cenário.
Um risco que também atinge o blockchain
A possibilidade de a computação quântica quebrar algoritmos usados no blockchain gera preocupação adicional, pois esses sistemas confiam em assinaturas digitais para validar transações e no consenso distribuído para proteger a integridade dos blocos.
Um salto quântico poderia alterar esses equilíbrios e facilitar ataques, embora hoje sejam considerados distantes.
“Devido à sua capacidade, os computadores quânticos já não utilizam a eletrônica, mas a física como base para o tratamento da informação, e isso permite multiplicar muitas vezes as capacidades de computação”, explica Giovanni Pichling, gerente de Segurança Estratégica da Asbanc, a associação de bancos do Peru, que também participou do evento.
Ele alerta, em conversa com este meio de comunicação, que essa tecnologia pode representar uma ameaça que permitiria aos cibercriminosos realizar um “ataque de 51%”. Ao ter esse controle majoritário, o invasor poderia validar transações fraudulentas, gerar blocos e integrá-los à cadeia, comprometendo assim a integridade e a segurança do sistema.
Embora hoje um ataque massivo contra blockchains como o bitcoin ainda seja improvável, para o setor bancário, o avanço da computação quântica implica revisar desde já os algoritmos de criptografia e explorar alternativas pós-quânticas que garantam a continuidade e a segurança das operações.
O desafio não é imediato, mas os especialistas concordam que o setor não pode esperar que haja ataques reais para iniciar sua migração para tecnologias mais robustas.
“Se você usar para o bem, será muito produtivo, mas se usar para o mal, também será muito prejudicial”, afirma Pichling.