A plataforma digital Deuna, do banco regional Pichincha, acredita que sua solução de pagamentos offline será rapidamente adotada no Equador, devido às altas taxas de telefones pré-pagos e à crise energética do país.
Os pagamentos offline são uma solução que cada vez mais empresas estão explorando para digitalizar transações em áreas rurais, com conexão instável ou de difícil acesso, comuns em países andinos, amazônicos ou desérticos: América Latina!
No Peru, as linhas pré-pagas representam 55,3% do número total de linhas móveis ativas em 2024, enquanto no Equador elas chegam a 78,8%, de acordo com dados oficiais publicados no ano passado. Essas particularidades fazem com que Felipe Duclos, diretor de produto e tecnologia do Deuna, preveja que esse serviço pode se tornar o centro das atenções.
“Há uma grande possibilidade, pelo menos no Equador, de que ele acabe sendo a principal solução, porque o país tem uma taxa muito alta de pessoas que usam redes pré-pagas. Portanto, se isso permitir que os usuários não gastem com a operadora de telefonia, as transações offline provavelmente poderão vir a ser usadas como um meio natural. E depois ir para casa e ligar o wi-fi”, diz o diretor.
Embora a conectividade e o uso de smartphones continuem a crescer na região, os bancos e as fintechs ainda podem contar com números concretos para projetar soluções de pagamento offline que lhes permitam alcançar mais usuários e avançar a promessa pendente de inclusão financeira.
No México, a realidade é a mesma. No segundo trimestre de 2024, as linhas pré-pagas representavam 69,4% das linhas de internet móvel.
“O impacto do país foi muito mais relevante se considerarmos as limitações das infraestruturas tecnológicas, não apenas no Equador, mas também nos países da região em geral. Poucos países hoje podem dizer que têm redes de comunicação que não sofrem com barreiras geográficas ou que, em algum momento, não entram em colapso”, acrescenta Duclos.
A construção de pagamentos offline
Desde 2023, o Equador vem sofrendo com uma crise de eletricidade, que chegou a causar apagões de até 12 horas em alguns casos.
Essa realidade levou a área de inovação da plataforma a criar uma solução offline que não exige que nem o pagador nem o recebedor estejam conectados no momento da transação. Basta que um dos dois se conecte depois para validar a transação por meio de um único pedido usando códigos QR.
A solução, lançada em janeiro, ainda está em desenvolvimento e já rendeu lições aprendidas. Em sua versão inicial, ela exigia que o saldo disponível não tivesse mais de quatro horas, o que gerava atrito pela manhã, quando o período de inatividade costuma ser maior.
“Você deixa o telefone à noite, volta de manhã e, obviamente, o saldo não está atualizado e a primeira coisa que acontece é que ele não permite que você opere. Agora ampliamos essa restrição para 24 horas e também temos uma restrição no limite de transações, que é de 3 a 15 dólares”, explica Duclos.
O Deuna garante aos comerciantes que usam a solução offline que, no caso improvável de fraude por parte do pagador, eles farão o pagamento integral ao destinatário.
“Estamos procurando desenvolver outros mecanismos para verificar a transação; alternativas, a fim de dar a eles mais de uma opção e permitir que os comerciantes escolham a que faz mais sentido para eles”, diz ele.
A estratégia do Pichincha com Deuna
Duclos garante que o impacto da solução será visto quando o Banco Pichincha, o maior banco do Equador, adotar a solução e integrar a maioria de seus correntistas à funcionalidade.
“Quando o banco adotar a solução, o que deve ocorrer em algum momento do segundo trimestre deste ano, já deveremos sentir o impacto no país. O que estamos buscando nesta fase é construir todo o modelo definitivo”, diz ele, descartando, no curto prazo, a expansão do Deuna para outros países onde o banco tem operações, como a Colômbia ou o Peru.
O compromisso do Deuna não implica canibalização de usuários do banco, pois a estratégia do Pichincha busca criar um ecossistema que atraia usuários para a holding. Além disso, a solução é compatível com outros bancos, o que abre as portas para um novo canal de receita para o Pichincha.
O Deuna foi desenvolvido com tecnologia de nuvem e também se integra ao núcleo local do banco, onde os usuários abrem suas contas. “Quando recarrego a conta do banco, estou entrando em um sistema que está no on-premise”, diz Duclos. O mesmo acontece se eles usarem a contabilidade do banco.
“90% ou um pouco mais do que Deuna é hoje se trata de uma solução de última geração e, obviamente, totalmente na nuvem”, diz ele.