A Deel, startup americana de contratação e remuneração de trabalhadores internacionais, apresentou seu programa de emissão de cartões pré-pagos para diversos países da América Latina, incrementando a sua oferta de folha de pagamento internacional, por meio de bancos e carteiras eletrônicas disponíveis em sua plataforma.
O crescimento do trabalho remoto e das contratações internacionais desafia as instituições financeiras a oferecer produtos com abrangência multimoeda, embora as regulamentações e taxas locais sejam os maiores obstáculos à oferta de serviços rápidos e de baixo custo para trabalhadores independentes.
A plataforma presente em 120 países baseou o seu rápido crescimento no apogeu dos nômades digitais, profissionais que trabalham em vários setores sem se limitarem a uma geografia, e dos trabalhadores independentes nos seus países de origem: um fenômeno não pequeno, onde se estima que se deslocam cerca de 35 milhões de trabalhadores internacionais, sendo a América Latina um destino no topo da lista.
“É aí que entra a parte da fintech. Mais do que ser o núcleo do negócio, é servir pessoas que necessitam de recursos humanos e infraestrutura financeira como solução”, disse Natalia Jiménez, diretora-comercial da Deel, à iupana.
Cerca de quatro em cada dez nômades digitais são freelancers ou trabalhadores autônomos, de acordo com uma pesquisa de 2023 da Statista. Jiménez explica que a plataforma cuida de todo o processo desde a contratação, cumprimento das obrigações trabalhistas e pagamento, realizando conversões de moeda e pagamentos a bancos locais e internacionais, utilizando a rede SWIFT, ou em fintechs como Payoneer, Revolut ou PayPal, e até mesmo para exchanges de criptomoedas como Binance ou Coinbase.
Para reforçar a sua própria oferta financeira nesse espaço, criaram, no fim de junho, um cartão físico Deel que está disponível em 20 países, incluindo Brasil, Chile, Argentina, México, Equador e Colômbia. O cartão, que tem a versão virtual desde 2022, é emitido em parceria com a Airwallex, plataforma financeira global.
Além disso, oferecem a possibilidade de dividir os valores em diversas formas: metade na carteira e outra metade para recarga do cartão pré-pago, por exemplo.
O modelo de rentabilidade da fintech é baseado no lucro do câmbio. Além disso, a empresa afirma que é uma ferramenta para melhorar a experiência de colaboradores e empregadores.
“Embora o câmbio seja muito competitivo, há um porcentual de lucro dentro do cartão. A porcentagem é baixa. [...], mas é aí que você ganha. Embora, igualmente, comparado aos custos de uma rede SWIFT, por exemplo, ou aos custos do PayPal, normalmente, seja menor”, esclarece Jiménez.
Deel: Expansão e questionamento
Desde 2019, a expansão meteórica da Deel tem levantado questões, muitas vezes, comparáveis ao crescimento da Uber ou do Airbnb. Atingiu a sua avaliação mais elevada, de cerca de US$ 12 bilhões, em 2022, apoiada por clientes transnacionais como Nike e Subway. Agora, está delineando IPO para 2025.
No entanto, os críticos questionam se a empresa tomou atalhos regulatórios. O seu CEO, Alex Bouaziz, teve de visitar o Capitólio dos Estados Unidos no ano passado para esclarecer que não estava desrespeitando as leis trabalhistas ao contratar a sua própria equipe, que estava listada na folha de pagamentos como trabalhadores independentes e não em tempo integral. A empresa disse que foi devido a um bug que foi corrigido.
Da Colômbia, Jiménez afirma que observam a conformidade regulatória em cada país onde emitem o cartão pré-pago.
“É por isso que é um lançamento tão importante. O problema é que cada país possui certificações e regulamentações diferentes. Embora seja um cartão internacional [...], é regulamentado em cada um desses países para que possa entrar e ser utilizado”, garante.
Outras empresas como Wise, Nomad e C6 também implementaram as suas soluções para captar dólares nômades, em um segmento de mercado que está crescendo em termos de concorrência, à medida que o panorama laboral também muda para dar prioridade à retenção dos trabalhadores.
A vontade de demitir-se na América Latina diminuiu durante 2023, mas permanece elevada em comparação com as médias globais, com 34% dos funcionários afirmando que estão abertos a procurar novas oportunidades para aceder a melhores pacotes de remuneração em um contexto de aumento do custo de vida, de acordo com um relatório anual de pesquisa comparativa da EY.
Para fortalecer sua oferta, a Deel também disponibiliza um serviço de adiantamento de salários, na forma de “adiantamento de folha de pagamento”, para alguns de seus clientes.
“Na plataforma para independentes, quando já trabalham conosco há algum tempo e têm uma certa periodicidade, e o cliente também passou em determinadas verificações de confiança, permitimos que antecipem o pagamento”, conclui Jiménez.