Embora a Uber não lance produtos financeiros no curto prazo no México — apesar de ter aval oficial para fazê-lo —, seus concorrentes DiDi e inDrive estão expandindo seus serviços em pagamentos, empréstimos e cartões de crédito, ampliando a aposta das plataformas de economia colaborativa em finanças digitais.
No entanto, as estratégias financeiras são diferentes: a Uber candidatou-se, passou no processo e obteve, em maio de 2023, a sua licença fintech como instituição de fundos de pagamentos eletrónicos (IFPE), o que lhe permite lançar a sua própria carteira digital com cartão de débito. Porém, a empresa decidiu interromper a iniciativa, pelo menos, momentaneamente.
“[A Uber] está muito feliz por ter obtido a licença, mas não tem planos imediatos de utilizá-la”, explicou a empresa por escrito à iupana.
A companhia não deu detalhes sobre os motivos do adiamento dos planos, apesar de, desde 2021, ter declarado interesse na vertical financeira, quando, inclusive, garantiu a este meio que estava utilizando os dados gerados em seu aplicativo para que seus parceiros motoristas se candidatassem para créditos autorizados por terceiros.
No entanto, apesar desta mudança de rumo, a incursão das plataformas de transporte e entrega no campo dos bancos e fintechs continua a avançar, com DiDi e inDrive refinando as suas estratégias, demonstrando as oportunidades da economia colaborativa (gig economy), o potencial de dados alternativos e o espaço que ainda existe no México para inclusão financeira e novas estratégias de negócios.
Uber, inDrive e DiDi desenvolveram estratégias semelhantes de expansão de ecossistemas: transporte, entrega, marketplace de alimentos e, agora, finanças. Estima-se que, no fim de 2023, existiam 78 milhões de trabalhadores em plataformas a nível mundial. E, no México, estima-se que, até 2021, haviam pelo menos 500 mil pessoas trabalhando nesta modalidade.
InDrive: alianças para lançamento de produtos financeiros
Em março, a empresa americana inDrive lançou a sua oferta de empréstimos e cartões de crédito para motoristas no México, por meio de alianças com empresas como a R2, uma fintech de empréstimo como serviço, a emissora de cartões Galileo e a Mastercard.
Isso permitiu melhorar o tempo de lançamento, além de gerar novos benefícios para a plataforma, tanto na retenção de motoristas parceiros quanto em receita, disse a empresa em entrevista à iupana. É um esquema em que o inDrive se posiciona como plataforma perante o usuário final e que compartilha os dados dos motoristas para gerar os seus perfis de crédito, para que os seus parceiros financeiros possam avaliar, viabilizar e cobrar os empréstimos concedidos.
“Um dos principais motivos pelos quais decidimos começar no México é porque estávamos encontrando parceiros fornecedores e vimos que há uma demanda reprimida”, explica Walter Rosales, chefe de atendimento ao cliente do inDrive Money, a plataforma financeira do aplicativo de transporte. A cada viagem, são descontados aproximadamente 10% da renda do motorista para pagar o crédito.
“Estamos ajudando, através dos mecanismos que temos, para que eles possam ter esse sentimento de fidelização à plataforma”, afirma.
Rosales acrescenta que o México tem uma grande procura de financiamento personalizado destinado a trabalhadores independentes, aos quais os bancos tradicionais não alcançam, porque possuem soluções padronizadas.
Já plataformas de táxis comentam que não procuram licenças próprias e que o esquema de aliança é sustentável no longo prazo, pois ajuda na retenção de clientes. Os fornecedores de tecnologia, como a fintech R2, respaldam-se em figuras jurídicas locais.
“Nossos parceiros de negócios obtêm revenue-share provenientes dos juros e comissões geradas. É uma forma bastante ‘assets light’ de entrar no negócio financeiro e monetizar dados sem ter de assumir risco de crédito ou construir o negócio financeiro do zero”, concorda Roger Larach, CEO e cofundador da R2.
DiDi: além de seus usuários
Em 2021, a DiDi apresentou sua ampliação de empréstimos, inicialmente, disponível apenas para passageiros e motoristas do aplicativo e que agora é direcionado a todos os mexicanos.
“Nossos objetivos são impactar positivamente não só as pessoas que já utilizam nossa plataforma, mas também garantir que qualquer pessoa possa acessá-la; por isso, temos o aplicativo independente DiDi Finanzas”, afirma Patricia Delgadillo, diretora de comunicação da DiDi México, em respostas compartilhadas por escrito para iupana.
No fim de 2023, a DiDi Préstamos já tinha desembolsado mais de 5 milhões de créditos desde o seu lançamento em 2021, enquanto o seu serviço de pagamento, DiDi Pay, também foi utilizado em mais de 2 milhões de transações. No ano passado, lançaram o cartão de crédito DiDi Card, emitido pela Regigold, uma instituição regulamentada no México.
Agora, a empresa chinesa ampliou sua visão, visando a uma estratégia de superapp, caminho também percorrido pelo Rappi e alavancado por um robusto plano de promoção e marketing.
“Queremos fazer parte do dia a dia das pessoas, para que elas viagem pela DiDi até seu trabalho, que, se quiserem, podem pedir comida e pagar com DiDi Card, mas também que coloquem saldo para o seu telefone ou o de seus entes queridos. Até mesmo paguem por serviços; tudo em um mesmo aplicativo”, diz Delgadillo.