Descubre el futuro de las finanzas en América Latina y el Caribe

The future of finance in LatAm & the Caribbean

O futuro das finanças na América Latina e no Caribe

Rappi e seus parceiros bancários: uma história de apostas, sucessos e desafios a serem superados

mar 4, 2024

Por Antony Pinedo

O Rappi pretendia se tornar o primeiro superaplicativo financeiro da América Latina, mas uma história de conquistas e desentendimentos com suas alianças o aguardava. Aqui está um raio x do braço financeiro da plataforma do Chile ao México

 

A vertical financeira do Rappi avança em velocidades diferentes nos países latino-americanos onde tem apostas, devido, em grande parte, ao relacionamento com seus parceiros bancários e a uma mudança de estratégia que está priorizando os mercados mais rentáveis.

Desde 2019, a plataforma de última milha optou por construir parcerias com entidades tradicionais, com o objetivo de se tornar o primeiro superapp da América Latina a oferecer produtos financeiros: o Rappi contribuiria com seu conhecimento tecnológico e poder de marca, enquanto os bancos contribuiriam com sua solidez e know-how financeiro, em um exercício de inovação baseado na experiência chinesa do WeChat.

Mas, é claro, o ambicioso plano tem apresentado resultados díspares, com luzes e sombras: o encerramento da sua caderneta de poupança no México, em fevereiro, e o fim do RappiCard no Peru, emitido em conjunto com o Interbank no ano passado, dão sinais de que o unicórnio está destilando a sua oferta para se concentrar em produtos com rentabilidade imediata e — na maioria dos casos — sem dependência de parceiros.

“[O Peru] não era uma prioridade para a aliança, tanto do lado do Interbank quanto do Rappi, certamente, e não foram feitos investimentos suficientes. Ou o mercado não era tão prioritário como pode ser no Brasil, México, Colômbia, que são mercados com potencial impressionantemente alto”, explicou Cédric Tártary, gerente de produto RappiPay para Chile, Peru e Brasil, em entrevista à iupana.

Em fevereiro de 2023, o então CEO do Interbank, Luis Castellanos, disse que o banco acabaria com alianças que não cumprissem os objetivos. A decisão foi finalizada em agosto, quando o Rappi afirmou que a aliança foi rompida por mútuo acordo.

“Se o seu maior aliado quer ir embora e encontrar um aliado dessa importância não se concretiza tão rapidamente, o que você tem que fazer? Você tem que se retirar. Isso é mecânico, não tem ciência”, acrescentou o executivo. No Peru, o cartão de crédito iniciou suas operações em junho de 2021 com o objetivo de emitir 60 mil cartões de crédito no primeiro ano e quadruplicar o número no segundo ano, mas os números não foram alcançados.

No entanto, Tártary antecipa que o Rappi aumentou o seu investimento na vertical financeira do Brasil, desde o fim do ano passado, para consolidar a sua base de clientes e continuar a crescer no volume de crédito, embora sem pretender competir com grandes players, como o Nubank. No Chile, começam a ver melhor tração, assim como na Colômbia. E também no México o seu parceiro Banorte disse à iupana que espera reforçar a sua oferta de cartão de crédito, dissipando os rumores sobre o desaparecimento do plástico de um milhão de utilizadores, após o encerramento da conta digital.

 

Proximidade: Rappi e Itaú no Chile

O panorama das operações no Chile também contrasta com os resultados do Peru, segundo Tártary. Lá, a aliança com o Banco Itaú foi firmada em março de 2021 e, após um ano de desenvolvimento, o produto foi lançado em junho de 2022.

“A organização e aliança que o Rappi tem com o Itaú é diferente daquela que o Rappi tinha com o Interbank. Lá o Itaú está muito envolvido no dia a dia. Tem uma equipe dentro do Itaú que está olhando a questão operacional, que está olhando as métricas”, revela o gestor. “Temos o apoio de um dos maiores bancos nesse nível de envolvimento. Eles obviamente alcançam uma enorme base de clientes”, continua ele.

Ao fim de 2023, foram colocados cerca de 40 mil cartões de crédito e a expectativa de crescimento é alta devido ao fluxo constante de aquisições, segundo o executivo. Na verdade, o Itaú Chile confirmou, em maio, que a aliança, embora nova, apresenta bons primeiros resultados.

 

Dependência: Rappi e Banorte no México

No México, o Rappi surpreendeu com o encerramento de sua conta digital para focar em novos produtos. Assim, a proposta financeira da plataforma baseia-se num cartão de crédito operado pela Tarjetas del Futuro, empresa constituída em junho de 2020 com o Grupo Financiero Banorte (GFNorte), que ambas as empresas garantem estar em boa situação.

No entanto, o número de plásticos tem diminuído constantemente. O produto entrou em operação em janeiro de 2021 com benefícios de cashback de até 3% e opção de compra sem juros por 18 meses. Neste primeiro ano, foram emitidos 436 mil plásticos. Enquanto em 2022 o número diminuiu para 342 mil e em 2023 para 201 mil.

“No primeiro ano, a meta era 400 mil cartões. Foram conquistadas com sangue, suor e lágrimas, mas com um custo altíssimo de carteiras vencidas”, explicou à iupana um ex-trabalhador do Rappi que pediu para não ser identificado por não ter autorização para falar.

Este meio solicitou ao Rappi a confirmação desses comentários, bem como uma entrevista mais extensa, mas a empresa não respondeu.

“[Em princípio] no México, a participação do Banorte foi muito baixa, muito marginal na tomada de decisões”, afirma a fonte, que acrescenta que, posteriormente, o grupo assumiu um papel maior nas Tarjetas del Futuro, uma vez que as posições-chave foram assumidas por ex-funcionários do consórcio. A empresa está formalmente distribuída em partes iguais.

Paralelamente, o Banorte vem desenvolvendo sua proposta digital, atualmente, chamada Bineo, desde outubro de 2022, data em que recebeu autorização para abertura da nova plataforma. O CEO do grupo garantiu à iupana que o Rappi estava ciente.

No fim do ano passado, GFNorte consolidou as operações da RappiCard em suas demonstrações financeiras, informando que esse movimento aumentou levemente o índice de inadimplência da carteira, levantando novamente alertas sobre a aliança.

No fundo, tudo isso destaca que o Rappi teve que se adaptar aos esquemas tradicionais típicos do setor financeiro, como gerenciar cobranças de clientes e manter a inadimplência sob controle, o que distancia o Rappi de seu negócio principal: a inovação tecnológica e sua proposta inicial como aplicativo de última milha, de acordo com fonte com conhecimento no assunto.

“Espero estar errado, mas acredito que este ano vai ser justamente um ano de saúde para  RappiCard: preparar bem a carteira para o próximo passo, que é vender”, prevê o ex-funcionário.

Perguntamos ao Rappi se a taxa de inadimplência do cartão de crédito está aumentando no México e se a vertical financeira está prejudicando seu caminho para a lucratividade, mas não obtivemos resposta.

Por outro lado, uma fonte adicional da indústria concordou com o ex-funcionário e disse à iupana que a Rappi abandonou um processo de pedido de licença de fintech, na forma de instituição de fundos de pagamentos eletrônicos (IFPE), um passo fundamental para continuar e tornar competitiva a sua caderneta de poupança.

Uma vez apresentada a solicitação, o regulador mexicano devolveu o fólio fazendo algumas observações e solicitando mais informações. “Eu estive nesse processo e nunca foi concluído”, especifica uma das pessoas com conhecimento direto.

Novamente, foram enviados pedidos de informações ao Rappi sobre isso, mas não obtivemos comentários.

 

Carteira difícil: Rappi e Davivienda na Colômbia

A aliança entre Rappi e Davivienda começou em 2019 com uma caderneta de poupança. Em 2021, lançaram o cartão de crédito e solicitaram a licença de empresa de financiamento, autorização que lhes foi concedida em junho de 2022 com o nome RappiPay e que lhes permite financiar depósitos.

O CEO da RappiPay, Ignacio Giraldo, revelou que atingiram 230 mil clientes em caderneta de poupança. No entanto, admitiu que têm um “indicador de carteira de crédito difícil”, em meio a um aumento nas taxas de juros que levou à inadimplência dos clientes, em entrevista publicada em janeiro no El Colombiano.

Em agosto, a RappiPay notificou seus usuários de cartão de crédito, cerca de 220 mil, que a carteira foi transferida para Davivienda, que agora controla o produto e as cobranças do cartão. A operação foi para otimizar a gestão de capital e crédito, embora o CEO tenha afirmado que a carteira deve retornar à RappiPay em 18 meses, em entrevista à Forbes.

 

Brasil: Rappi e uma nova estratégia

A estratégia da Rappi no Brasil é sem associação. A plataforma solicitou licença financeira própria em janeiro de 2021 e, desde então, tem visto um crescimento orgânico para receber depósitos e emitir cartão de crédito.

Segundo Tártary, o Rappi está repensando seus objetivos na maior economia da região, onde aposta em uma participação modesta, mas de alto valor. “A vantagem é que o Brasil tem uma população enorme. Portanto, capturar até 1% do mercado é lucrativo”, afirma o gerente de produto.

Porém, em junho de 2023, a empresa reconheceu que estava reestruturando o seu processo de análise de crédito, razão pela qual cancelou os cartões de crédito de alguns usuários; novas evidências de que a empresa está enfrentando desafios para alcançar seus objetivos.

“Agora, estão sendo discutidas para ver, justamente, como voltar a lançar novos produtos no Brasil. Espero que este ano comecemos a ver alguma diferença”, finaliza o executivo.

 

Acompanhe as tendências de bancos digitais, pagamentos e fintechs na América Latina

Junte-se aos líderes mundiais em tecnologia financeira que leem os relatórios da iupana