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Google e Huawei: desafios para a implementação de cloud banking

maio 8, 2023

Por Antony Pinedo

As divisões de nuvem do Google e da Huawei concordam que uma mudança de paradigma da indústria é necessária para agilizar o processamento de dados, enquanto a competição por clientes continua

Google e Huawei concordam que o principal limitador para a adoção da nuvem no setor financeiro latino-americano é a mudança da cultura corporativa: embora os benefícios do cloud banking tenham sido divulgados com cautela, na prática, não é tão fácil convencer os gestores de bancos a investir na migração de seus sistemas legados.

Embora existam áreas que estão migrando rapidamente para servidores virtuais — como o armazenamento de dados —, a mudança do core bancário, onde as transações e regras de negócios são armazenadas, geralmente, requer processos mais complexos.

Além disso, essa decisão, embora pareça técnica, tem impacto direto no atendimento ao cliente, desacelerando o desenvolvimento de plataformas digitais atrativas e tornando os bancos menos ágeis na competição com fintechs e big fintechs.

“Não existem tantos limites tecnológicos. O que existe são limites na forma de pensar”, diz Julio Velázquez, diretor-geral do Google Cloud México, à iupana.

“Desenvolver sistemas de computador de 30 anos atrás não é o mesmo que fazer hoje. Não é uma etapa fácil, nem imediata [...]. Por meio de ferramentas avançadas, ajudamos os clientes a entender seus sistemas legados, aqueles que eles desenvolveram por muitos anos: quais estão disponíveis e têm uma tendência mais positiva para poder migrá-los”, adiciona.

A utilização da nuvem possibilita abranger o armazenamento e processamento das operações bancárias, redobrar a segurança das informações e possibilitar a análise de dados em tempo real, ferramentas que auxiliam na customização e desenvolvimento de novos produtos.

No entanto, ainda hoje, uma parcela significativa dos bancos da região conta com tecnologia legada, com menor flexibilidade para identificar padrões.

 

Sistemas legados x mídias sociais

Alfonso Jiménez, diretor de estratégia e marketing da Huawei Cloud na América Latina, destaca que o núcleo bancário tradicional não foi pensado para analisar tendências atuais, como informações em redes sociais ou hábitos de consumo online. “É aí que a nuvem se torna um facilitador para podermos implementar soluções”, afirma.

“Para alcançar uma transformação digital eficiente, temos que começar com pessoas e processos”, acrescenta Jiménez.

A Infocorp, empresa dedicada ao desenvolvimento de tecnologia financeira, destaca que, até 2024, pelo menos 40% dos bancos terão iniciado seu processo de migração para a nuvem. E, se em princípio, essa tecnologia era vista como uma forma de reduzir custos, ao flexibilizar a manutenção dos servidores, agora, ela também é percebida como uma fonte de novas receitas, pois permite diversificar a oferta de produtos.

No entanto, relativamente poucos bancos ainda estão se arriscando. O Santander, da Espanha, anunciou, em maio passado, que estava se tornando uma das primeiras entidades globais a migrar 80% de seu core bancário para a nuvem, enquanto o Interbank, do Peru, disse em novembro que havia conseguido uma migração de cerca de 30% de suas operações para o Amazon Nuvem (AWS).

“Os bancos, em geral, entendem a oportunidade digital e o que as fintechs representam. E temos visto muito investimento e tempo investidos na melhoria de suas ofertas”, disse Mike Packer, sócio da QED Investor com foco em investimentos de VC na América Latina, à iupana.

A empresa está prevendo que a receita da indústria de fintech crescerá seis vezes até 2030, de US$ 245 bilhões para cerca de US$ 1,5 trilhão, de acordo com uma pesquisa realizada com o Boston Consulting Group (BCG). No caso da América Latina, o estudo também espera uma evolução significativa, apesar das condições econômicas mais complexas e da seca de capitais: prevê uma taxa composta de crescimento anual de 29% (CAGR) nos próximos sete anos, liderada pelos ecossistemas do México e Brasil.

“Os bancos precisam levar as fintechs a sério, pois elas continuam a competir por clientes, aprender quais são suas preferências e continuar acelerando”, acrescenta Packer.

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O valor dos dados na nuvem

Os entrevistados revelam que a transição tecnológica é mais demorada, de acordo com a área específica do banco a ser migrada, podendo incluir uma implantação de até 36 meses. Geralmente, o armazenamento de dados é o primeiro serviço exigido pelos bancos ou fintechs de seus provedores de nuvem.

“Os dados são o novo petróleo do mundo, têm uma capacidade impressionante de nos fazer entender, por meio de conhecimento e análises avançadas, o que está acontecendo com meus clientes; o que procuram e como ser muito mais assertivos na oferta”, diz Velázquez, da big tech Google.

“As empresas e organizações que tiverem a capacidade de desenvolver essa habilidade e adotar tecnologias e produtos poderão se diferenciar”, acrescenta.

Assim, existem áreas dos bancos que podem fazer a transição para a nuvem de forma mais rápida, por meio de uma modalidade conhecida como lift and shift, que consiste em fazer cópias das informações (aplicativos, software, regras) e transferi-las para a nuvem, sem otimização, com o objetivo de buscar eficiências de custos e operações, explica Velázquez.

Por outro lado, existem áreas mais sensíveis e cadastradas dentro da tecnologia legada que precisam de mais tempo para migrar. Em particular, trata-se do núcleo bancário, que é o sistema neural onde residem as contas, clientes, cheques, crédito. “O que estamos fazendo, aos poucos, é modernizá-los com a ideia de buscar eficiências", diz o porta-voz do Google.

No entanto, armazenar e processar dados são coisas diferentes. As organizações, especialmente os bancos, muitas vezes se deparam com enormes lagos de “dados sujos” que dificultam sua identificação e criação de métricas relevantes.

Se algo não estiver certo desde o início e for digitalizado, o resultado será mais eficiente, mas de baixa qualidade, resume Jiménez da Huawei: "entra lixo, sai lixo".

 

Microlatência é chave

O volume de operações no setor financeiro exige tempos de resposta rápidos. E, quando se trata de milissegundos, negociações em tempo real e pagamentos imediatos, a latência de resposta se torna importante.

Os entrevistados dizem que essa busca por velocidade impulsionou a decisão de construir data centers em várias partes da região. “A microlatência se torna um dos principais players”, diz Jiménez, da Huawei, empresa com instalações no México, Brasil e Chile.

"Nos serviços bancários, uma microlatência média de menos de 100 milissegundos é essencial para atender a esses milhões de usuários com milhares de transações por se  Por exemplo, o  explica que, antes da pandemia, bancos com servidores operando fora do território mexicano tinham latência entre 160 e 280 milissegundos. “São séculos de setor financeiro e isso permite diferentes riscos no processo.”

Esse foco local também permite que eles cumpram os regulamentos mexicanos, que exigem que as instituições financeiras armazenem uma cópia de seus dados no país.

Do Google, acrescentam que a visão é de longo prazo e que, agora, também começaram a construir instalações na cidade mexicana de Querétaro.

“Para poder atender às necessidades não só da indústria bancária, mas também das telcos ou da indústria 4.0”, conclui.

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