Quem vai levar o bolo? Apesar do ceticismo, o uso de criptomoedas para envio de remessas está ganhando espaço como alternativa na América Latina, onde, em ritmo acelerado, proliferam soluções que buscam acelerar os colossais movimentos de dinheiro através das fronteiras.
A aposta de Bitso, o unicórnio mexicano, segue nessa ordem. Durante o primeiro semestre de 2022, a fintech processou US$ 1 bilhão em transações internacionais com criptoativos, o que representa um crescimento de quatro vezes em relação ao mesmo período de 2021. Claramente, um marco para uma indústria que está apenas explorando casos de uso reais.
Para isso, a Bitso diversifica sua oferta de produtos para dois públicos-alvo: pessoas físicas e pequenas empresas, empresas de remessas e outras instituições financeiras que desejam se aproximar do universo criptográfico. Para ambos, a diferenciação está na oferta de transferências (quase) em tempo real e com comissões baixas — dores que, geralmente, são assumidas pelo consumidor final, dificultam a inclusão e atrasam a digitalização das transferências transfronteiriças.
“Além da segurança e eficiência dos envios, as vantagens oferecidas por este serviço permitem reduzir custos neste tipo de transação e, embora os usuários finais não percebam que o processo foi realizado por meio de criptomoedas, poderão se beneficiar de preços muito menores”, diz Bárbara González, CFO e diretora- geral da Bitso México, à iupana.
“Os benefícios que as criptomoedas trazem para o processo de envio entre países são muitos; então, sem dúvida, estamos enfrentando um crescimento exponencial”, observa a executiv a, que liderou o departamento financeiro da Bitso durante a captação de capital que a transformou em um unicórnio avaliado em cerca de US$ 2,2 bilhão.
Você pode gostar: Remessas de criptomoedas? Wise diz não, por enquanto
Um novo modelo de pagamento transfronteiriço
Até agora, os dois mercados com maior operação de embarque para Bitso são México e Colômbia. Eles também estão presentes na Argentina.
Nesse sentido, eles disponibilizam transferências em dólares (wire) entre os Estados Unidos e México e entre EUA e Argentina, por meio de seu aplicativo. Normalmente, uma transferência desse tipo significa enviar dinheiro entre bancos do mesmo país, mas a carteira permite enviar e receber dólares de uma conta bancária nos Estados Unidos para uma conta Bitso.
Para as empresas, coloca à disposição sua infraestrutura para agilizar suas operações utilizando stablecoins em seu portfólio. Por meio de uma integração via API, instituições financeiras, como fintechs ou bancos, podem agregar serviços de venda, compra e entrega de ativos virtuais, que os clientes podem manter ou converter em dinheiro fiduciário.
Nesse setor, a empresa mantém acordos com empresas de remessas nos Estados Unidos que estão instaladas na infraestrutura da Bitso para movimentar dinheiro para a América Latina, explica González.
“Para o transmissor de dinheiro [remitter] isso é uma grande vantagem, pois reduz o capital de giro necessário para cumprir as obrigações de pagamento”, diz.
Você pode gostar: Cinco fintechs que estão reinventando o negócio de remessas na América Latina
Regulação de criptomoedas: ponto–chave para a América Latina
No entanto, os valores que plataformas como o Bitso movimentam são uma gota d’água em um oceano de remessas de cerca de US$ 131 bilhões por ano.
Apesar das tentativas de digitalização, a realidade é que os depósitos e saques continuam sendo principalmente em dinheiro. Isso foi corroborado pela Western Union, que garantiu à iupana, este ano, que seus pontos de remessa física, longe de diminuir, continuam aumentando.
A Wise, fintech especializada em pagamentos internacionais, também concordou recentemente que o uso de criptomoedas para enviar ou receber remessas, quando ainda não existe um ecossistema que permita seu uso massivo no mundo virtual ou físico, gera atritos para os consumidor.
Para González, o setor amadurecerá quando os casos de uso de criptomoedas forem normalizados e generalizados, algo que virá acompanhado de uma maior regulamentação.
Os países da região fizeram vários avanços nesse sentido. De acordo com o índice iupanaPRO, uma série de indicadores que quantificam de 1 a 5 o progresso regulatório nas principais questões de tecnologia financeira nos principais mercados da América Latina, a maioria das jurisdições da região teve abordagens oficiais ao mundo das criptomoedas. Por exemplo, o Peru está no nível 2 (tem um projeto legislativo preliminar), enquanto o México, com uma Lei de Fintech e um marco regulatório focado em exchanges, está no nível 5 (totalmente regulamentado).
“Cada vez que detectamos uma abertura maior, bem como um desenvolvimento importante em questões regulatórias, que são essenciais para continuar incentivando o crescimento dessa tecnologia”, acrescenta a CEO para o México.
Você pode gostar: As remessas se digitalizam na AL. pouco a pouco
Criptografia, fiat e os desafios do futuro
Regras claras, a difusão de informações precisas e a maior fiscalização das autoridades podem ajudar a mitigar parte dos riscos (reais e reputacionais) dos criptoativos, tudo isso em um contexto em que o mercado ainda mal se recupera do “inverno”, que, neste ano, eliminou abruptamente trilhões em ativos, gerou demissões em massa e piorou a imagem das moedas digitais.
Movidos por essa cautela renovada, até os investidores desaceleraram o ritmo de desembolsos. O investimento global em startups de blockchain e criptomoedas caiu 35% no terceiro trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, segundo a CB Insights.
“Um dos principais desafios é a educação e o conhecimento sobre o potencial das criptomoedas para tornar esse tipo de processo financeiro muito mais eficiente”, afirma a gestora.
Para isso, enfatiza que, na conversão de criptomoeda para fiduciário, “os usuários não assumem nenhum tipo de risco cambial”. A Bitso também cobra uma comissão no momento da conversão, mas “muito menor do que as cobradas pelos métodos tradicionais”.
Esse é um ponto importante. Os principais obstáculos para o sistema tradicional são altas comissões e longos tempos de espera. No 4T de 2021, globalmente, o custo para enviar cada US$ 200 foi de 6%, segundo o Banco Mundial.
“Pouco a pouco, a indústria de criptomoedas está ganhando sua participação em um mercado crescente de transações internacionais e pagamentos internacionais”, diz González, projetando que a Bitso processará cerca de US$ 4 bilhões em transferências internacionais em 2023.
Você pode gostar: Boas Fontes: Como está o inverno cripto na América Latina?