Converter criptomoedas em um meio de pagamento estável e diário está surgindo como um desafio para as fintechs. Mas até que isso aconteça, para a Wise, usar criptoativos para movimentar dinheiro além-fronteiras ainda não é uma opção.
A fintech britânica, que ganhou reconhecimento por suas soluções cross-border, acompanha de perto a adoção de criptomoedas para acelerar o envio de remessas na América Latina, mercado pelo qual tem grande apetite. No entanto, a Wise alert a que seu uso gera atritos e eleva as taxas de câmbio, devido às comissões adicionais cobradas.
“Atualmente, a maioria das pessoas ainda precisa converter moedas fiduciárias e criptomoedas e isso leva a atritos e taxas desnecessárias durante o processo”, disse Pedro Barreiro, líder bancário e de expansão da Wise no Brasil, à iupana.
“Continuamos muito focados em reduzir essas taxas e atritos quando as pessoas movimentam dinheiro ao redor do mundo”, acrescenta.
A Wise, anteriormente TransferWise, usa um modelo em que o dinheiro se move o mínimo possível.
A ideia é justamente construir uma rede bancária local, evitando que o dinheiro cruze fronteiras, o que geraria mais custos e tempo. Portanto, se um usuário envia libras e deseja convertê-las em euros, por exemplo, ele deposita libras na conta bancária da Wise no Reino Unido e paga ao destinatário de sua conta em euros.
É uma fórmula que tenta reduzir as altas comissões que os bancos cobram pelos envios transfronteiriços. A tecnologia blockchain é uma alternativa para aliviar essas dores; no entanto, para alguns players dessa área ainda é uma opção prematura, pois a região não possui um ecossistema de pagamentos adequado para aceitar e operar com criptomoedas.
Existem casos de uso em potencial. E, de fato, gigantes como a Mastercard estão explorando os possíveis cenários para o futuro. No entanto, é um trabalho em andamento.
Em um relatório feito no ano passado pela Chainalysis, a carteira de criptomoedas venezuelana Valiu concordou que, para fazer uso real dessa modalidade, era urgente desenvolver uma rede que permitisse que compras finais fossem feitas com criptos e, assim, não obrigasse os usuários a fazer a conversão para moeda fiduciária.
Até a bigtech Meta lançou o Novi, um piloto de carteira digital para enviar dinheiro entre os Estados Unidos e a Guatemala por meio de uma stablecoin. No entanto, anunciou seu fechamento em 1º de setembro deste ano.
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Wise: procurando alianças para expandir na América Latina
A fintech, com uma avaliação de mercado de 4.884 milhões de libras, sofreu uma perda de valor de quase 50% desde que abriu o capital na Bolsa de Londres, em julho de 2021, apesar de ser solvente. Agora, ele está de olho na América Latina para aumentar sua renda.
“É uma região com muito potencial a explorar”, diz Barreiro.
A Wise deve abrir escritórios no México, em outubro, buscando competir em um dos maiores mercados de remessas da América Latina.
No fim de 2021, as transferências de dinheiro para a região aumentaram 25,3% em relação ao ano anterior e atingiram US$ 131 bilhões, segundo dados do Banco Mundial. É um volume que ilustra o tamanho e o potencial do setor. Só no México entraram US$ 51,5 milhões, o que atraiu players globais, como a Revolut, para apostar no país asteca.
“No México, acreditamos que, por sermos baratos, práticos, transparentes e rápidos na entrega, teremos um grande diferencial entre todos os players do mercado”, afirma Barreiro.
Além de Brasil e México como mercados prioritários, eles já possuem licença para operar no Chile e também estão movimentando transferências de dinheiro na Argentina, Uruguai, Colômbia e Costa Rica.
A empresa explica que em cada país eles têm um modelo diferente com seus parceiros bancários, com comissões diferentes. Além disso, seu valor diferencial se destaca por informar, desde o início da operação, quanto haverá de custos serão gerados e que a taxa de câmbio obtida é a divulgada pelo Google. Além disso, as transferências, geralmente, são concluídas em poucas horas.
O executivo conta que para isso eles tentam se conectar diretamente aos sistemas de pagamento. “Quando isso não é possível, buscamos licenças bancárias e parceiros que nos permitam acessar a infraestrutura de pagamentos instantâneos, mesmo que indiretamente, para concluir pagamentos localmente”, afirma.
No Brasil, assim como em outros países onde está presente, a Wise oferece uma carteira digital multimoeda que permite aos usuários operar com euros, pesos ou dólares da mesma plataforma.
“No Brasil, planejamos quadruplicar o tamanho da equipe local até o final de 2023”, conclui o executivo.
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