No mapa de expansão das fintechs, a América Latina é a única rota viável? Em sua busca por oportunidades de valor, gigantes de pagamentos digitais como dLocal e EBANX encontraram espaços na Ásia e na África para usar suas soluções.
As empresas concordam que os baixos níveis de inclusão financeira, a crescente adoção de propostas digitais e o crescimento demográfico são os ingredientes que motivaram seus planos de expansão do outro lado do mundo.
É um caminho diferente na internacionalização, processo crucial para startups de finanças digitais, que dependem de escala para atingir suas metas de rentabilidade. E, embora a expansão regional continue sendo a dinâmica preferida pelas empresas, está se criando uma tendência de entrada de grandes fintechs em mercados emergentes com baixa penetração de pagamentos eletrônicos e banco digital.
“Há um déficit no sistema bancário e na infraestrutura de pagamentos nos mercados emergentes. Muitas pessoas não são bancarizadas e ficam excluídas do ecossistema da Internet. Esse é o desafio”, disse a iupana Paula Villamarín, gerente global de comunicação da dLocal.
“Os pagamentos alternativos crescem a um ritmo muito mais rápido em países onde a população, por uma questão de confiança ou infraestrutura, não se baseia no sistema bancário, mas nesses pagamentos alternativos”, acrescenta Villamarín.
A rota traçada rumo a novos continentes não é exclusividade do unicórnio uruguaio, empresas como EBANX e Nubank têm demonstrado interesse em implantar suas soluções fora da América Latina. A primeira iniciou sua expansão no ano passado, enquanto o Nu, do lado dos investimentos, injetou US$ 45 milhões no neobanco indiano Júpiter em agosto de 2021.
As vantagens das fintechs da América Latina
Jonathan Whittle, cofundador e sócio-gerente da Quona Capital, empresa de investimentos que levantou no ano passado um fundo de US$ 332 milhões para ferramentas focadas em mercados emergentes, observa que há espaço para soluções fintechs voltadas para a Ásia e a África.
“São mercados grandes, com rápida adoção de tecnologia e baixa penetração de serviços financeiros, onde as fintechs têm enorme potencial de captura de mercado. As grandes fintechs da América Latina têm vários anos à frente das fintechs locais e se sentem confortáveis em mercados emergentes”, disse ele a este noticiário.
“É um passo natural para eles explorarem oportunidades onde as grandes fintechs dos Estados Unidos ou da Europa não têm foco por enquanto”, acrescenta.
dLocal destaca que o foco para 2023 e 2024 será a África e a Ásia, seguindo efetivamente as estimativas que indicam que estas serão as regiões com maior crescimento populacional no ano de 2100, segundo projeções feitas pelo Institute of Health Metrics e Avaliação (IHME).
Entre os países com maior crescimento populacional esperado, Villamarín destaca Índia, China, Nigéria, Estados Unidos, Paquistão, Indonésia, Etiópia, Tanzânia e Egito. “Exceto China e Estados Unidos, todos são países emergentes.” “Tudo o que fizemos nos últimos anos vamos implementar na África e na Ásia. No momento, não estamos fechando a janela, mas teremos a América Latina em espera”, complementa Villamarín.
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Dinheiro móvel, o boom na África
dLocal está presente em 12 países da Ásia e dez da África. A empresa observa que os pagamentos alternativos estão crescendo muito rapidamente nessas regiões, algo que já havíamos apontado na iupana no caso da América Latina e que pode oferecer a eles uma mapa para fintechs em novos mercados.
No entanto, o investidor da Quona destaca que existem diferenças que precisam ser levadas em conta entre as regiões. A América Latina tem uma renda média mediana, enquanto, nos países asiáticos e africanos, a renda é menor. “O que funciona na América Latina não necessariamente funcionará nessas regiões”, observa Whittle.
Por exemplo, o EBANX destaca o dinheiro móvel como uma das particularidades que se destaca na África. De acordo com a empresa de pagamentos brasileira, esse método de transferência por meio de mensagens de texto móveis tem uma adoção massiva naquela região.
"Atualmente, 70% do volume de transações realizadas por meio de dinheiro móvel vem da África. Qualquer operação de pagamento na região — e qualquer operadora global que queira estar lá — precisa ter um entendimento profundo do que é dinheiro móvel”, aponta Paula Bellizia, presidente de pagamentos globais de EBANX, em entrevista à iupana.
Em 2021, mais de 296 milhões de contas de dinheiro móvel foram registradas, somente na África Oriental. No mesmo período e na mesma região, foram creditadas transações de mais de US$ 403 bilhões, ante US$ 178 bilhões em 2020, segundo o Statista.
Bellizia lembra que o EBANX considerou critérios como hábitos de consumo, taxas de penetração de smartphones e cartões de crédito para desembarcar na África. A empresa destaca que iniciou sua expansão no continente pela África do Sul, Quênia e Nigéria e diz que juntos respondem por mais de 50% do PIB da região e um terço da população.
“Talvez a principal diferença seja que, enquanto na América Latina a ascensão do comércio eletrônico promoveu os pagamentos digitais, na África são estes que promoveram o comércio digital”, acrescenta.
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Com um olho sempre na América Latina
Apesar da expansão, as paytechs continuam esperando desenvolvimentos na América Latina. “Existem mais empresas latino-americanas querendo vender cross border. Talvez não para os Estados Unidos ou para a África, mas do México para o Brasil ou do Brasil para a Argentina”, diz Villamarín, da dLocal.
Por isso, desde muito cedo agregaram o Pix como meio de pagamento em sua oferta para empresas globais que buscam colocar seus produtos no Brasil. Ela destaca que a regulamentação clara é essencial para o crescimento dos pagamentos e das finanças digitais, algo que ficou evidente com o Pix: o Banco Central orientou as etapas de implantação desde o início e, portanto, sua ampla adoção.
O EBANX também afirma que ainda há muito espaço para expansão na América Latina. “A expectativa é de que o comércio eletrônico total na região cresça 25% ao ano até 2025. Enquanto o comércio eletrônico cross border sozinho crescerá 34% ao ano no mesmo período”, diz Bellizia.
“O potencial da economia digital na América Latina está diretamente relacionado ao aumento da inclusão financeira e digital e a uma mudança cultural, em que a população está cada vez mais atenta, interessada e disposta a consumir produtos e serviços globais. E isso ocorre por meio de uma oferta diversificada de meios de pagamento”, finaliza.