Os desafios e as oportunidades de open finance, a maior adoção da computação em nuvem, o que significa o avanço dos criptoativos, o desenvolvimento do Real Digital, os impactos do uso da inteligência artificial e, claro, o papel desempenhado pela segurança em tudo isso: esses foram os temas relevantes debatidos pelos executivos da indústria financeira durante o Febraban Tech, evento da Federação Brasileira de Bancos
Como antecipamos em Boas Fontes, na última sexta-feira [ clique aqui para ler nosso boletim semanal ], a questão da segurança no open banking ficou evidente nas falas de bancos como o Bradesco e de provedores como a Dell. Com a abertura dos dados e a ampliação do compartilhamento entre diferentes instituições, será cada vez mais necessário garantir sua integridade, proteção e privacidade.
Após dois anos sem ser presencial, o maior evento de tecnologia do setor financeiro brasileiro mudou de nome (de Ciab para Febraban Tech). Neste ano, os líderes da indústria brasileira se reuniram, durante três dias na Bienal de São Paulo, com especialistas internacionais para discutir os rumos do setor.
A seguir, a iupana traz para você os principais destaques do Febraban Tech.
Real Digital
A CBDC (moeda digital de bancos centrais) do Brasil pode ser lançada em 2024, conforme afirmou o presidente do Banco Central do Brasil (BC), Roberto Campos Neto, no encerramento do Febraban Tech. Em sua palestra, ele destacou que as economias migram rumo à tokenização.
Segundo Campos Neto, toda a agenda de inovação do BC, incluindo Pix, Real Digital e finanças descentralizadas (DeFi), convergem em um único ponto. “O que eu imagino no futuro é, ao abrir o celular, ter minhas contas, todos os produtos, centralizados em um só local . Um agregador onde as pessoas podem ver tudo e ter uma posição consolidada.”
O presidente do BC explicou que o Real Digital visa a fomentar novos modelos de negócios e, portanto, terá um papel mais importante do que simplesmente fazer pagamentos transfronteiriços ou instantâneos, especialmente, porque o Brasil já tem Pix. A redução do uso de papel moeda também é uma diretriz para o desenvolvimento do Real Digital, que tem como objetivo aproveitar o ecossistema de finanças abertas. É um tipo de dinheiro programável que fomentará, entre outros, os contratos inteligentes.
Do ponto de vista do BC, trata-se demais do que uma nova forma de pagamento. É uma expressão virtual do real aliada a uma infraestrutura que interliga os serviços financeiros de hoje com os novos do futuro, baseados em blockchain, Web 3.0 e novas tecnologias.
“A CBDC é um tema novo, que ainda está sendo definido e cada país tem uma definição diferente. Todos concordam que a moeda digital é uma expressão da moeda soberana”, acrescentou Fabio Araujo, coordenador da iniciativa Real Digital do Banco Central.
Embora o Real Digital tenha foco no varejo, Thamilla Talarico, da consultoria EY Brasil, diz que o foco não será, como outros países, em transações instantâneas, até porque o Brasil conta com o Pix. “O BC está analisando a programabilidade para pagamentos. A CBDC é uma moeda fiduciária, mas em sua expressão digital, que é diferente de uma criptomoeda”, explicou.
Digital é rei
O setor financeiro está se movendo rapidamente para reduzir a diferenciação entre bancos digitais e tradicionais. Fernando Kontopp de Oliveira, CIO da unidade de cartões, Iti e marketplace do Itaú Unibanco, disse que as chamadas empresas digitais são aquelas que têm uma visão diferenciada do cliente e que, nesse contexto, os bancos estão evoluindo para se tornarem empresas tecnológicas.
O vice-presidente de rede de varejo da Caixa Econômica Federal, Júlio Cesar Volpp Sierra, segue a mesma definição. Para ele, todo banco é digital na medida em que olha para o seu cliente e se refere a ele como uma abordagem estratégica. “Quando colocamos o cliente no centro da estratégia, não há como tirar o banco desse caminho digital”, afirmou Sierra.
Por exemplo, o Next nasceu 100% digital e sob a estrutura do Bradesco. Mas, há alguns anos, eles avançam em uma estratégia de separação, que os está levando a migrar para a nuvem, com o desafio de ter um core próprio, segundo Jeferson Ricardo Garcia Honorato, diretor do Next.
A digitalização continuará a gerar oportunidades. Open finance é um deles, sendo que também aumenta a concorrência. Como disse Marcelo Flora, sócio do BTG, open finance facilita para o cliente a seleção da melhor instituição, o que também representa uma oportunidade para novos players. Ele concordou com o CTO da Next, Jolivan Galvão Filho: “Poderemos usar muita inteligência para oferecer os melhores produtos aos clientes e criar produtos personalizados”.
Novos critérios ESG do regulador
As novas normas ESG do Banco Central do Brasil exigem que as entidades analisem melhor os riscos sociais, ambientais e de governança em seu processo de tomada de decisão e investimento. Desde julho de 2022, quando entrou em vigor um conjunto de normas ESG emitidas pelo BC, os maiores bancos têm mais exigências e desafios pela frente.
Todas essas novas regulamentações devem impulsionar o mercado de software, pois os bancos terão de se adaptar e aumentar os controles ambientais, sociais e societários não apenas das próprias entidades, mas também do mercado.
Velocidade 5G
Com o início da implantação das redes 5G no Brasil, os canais de banco digital experimentarão outras velocidades que influenciarão na experiência do usuário e até nas expectativas de desenvolvimento de aplicativos.
O Bradesco anunciou que pretende usar a tecnologia em 100 agências até o fim de 2022. O desafio é substituir os hotspots Wi-Fi instalados nas agências bancárias para atendimento ao cliente por 5G, segundo o líder de infraestrutura de TI do banco, Wilson Okamoto.
“O tempo de resposta do aplicativo foi reduzido de 40 segundos para 5 segundos. O 5G puro realmente mudou a forma como o serviço era usado. Tentamos o 5G DSS, que usa alcance 4G, mas o 5G puro foi uma experiência diferente”, disse.