Impulsionados pelo avanço dos sistemas de transferência imediata e pela consolidação das carteiras eletrônicas, os métodos de pagamento conta a conta (A2A, na sigla em inglês) continuarão ganhando espaço e consumindo parte do mercado de cartões de débito e crédito em 2023, concordaram as plataformas de pagamento digital EBANX e PayPal, em entrevista à iupana.
Os pagamentos account-to-account (A2A), que dispensam plástico para processamento de transferências, facilitam a movimentação de recursos entre contas de clientes sem a necessidade de intermediários. Essa simplificação da experiência do usuário, somada a uma emissão limitada de cartões de crédito e a rápida expansão de sistemas de pagamento imediato, como o Pix, no Brasil, estão motivando seu maior uso.
Entre 2011 e 2021, o número de latino-americanos com caderneta de poupança cresceu de 39% para 73%, ante 28% que possuem cartão de crédito, segundo relatório recente do EBANX.
“É nessa diferença, entre correntistas de conta e titulares de cartão, que se dá lugar a que essas alternativas de pagamento nasçam, prosperem e tenham sucesso”, disse à iupana Juliana Etcheverry, diretora de pagamentos estratégicos e alianças de expansão do EBANX, plataforma brasileira de pagamentos internacionais.
“Quase 40% da participação do comércio digital é desses meios alternativos de pagamento; boa parte deles estão baseados em contas”, acrescenta.
Embora na região o pagamento com cartões de crédito e débito continue sendo o protagonista do comércio digital, os novos métodos de pagamento A2A estão mostrando progresso, de acordo com a Americas Market Intelligence. Por exemplo, no Brasil, a consultoria acrescenta que os cartões de crédito foram o meio de pagamento líder até o fim de 2022, com uma taxa de penetração de 53%, mas que sua participação já está diminuindo em favor de métodos como Buy Now Pay Later (BNPL), Pix e carteiras.
Comendo o mercado de cartões e... dinheiro
Os entrevistados esperam que esse tipo de solução financeira continue ganhando força em 2023 porque alivia parte da dor que os adquirentes tradicionais não conseguiram superar. Os pagamentos baseados em conta são peer-to-peer (ponto a ponto ou P2P) e quase em tempo real. Além disso, os custos quase nulos para usuários e empresas aumentam sua atratividade.
“Achamos que eles vão canibalizar o dinheiro. Potencialmente, também competirão com transferências bancárias e outros pagamentos, inclusive no futuro com o processamento de cartões de crédito e débito”, acrescenta Mayrén Martínez, gerente de estratégia e desenvolvimento de mercado do PayPal na América Latina.
O gestor salienta à iupana que a iniciativa dos diferentes reguladores da região de apostar na criação de sistemas de pagamento imediato, tais como o Pix do Brasil, o botão de pagamento PSE da Colômbia e o SINPE da Costa Rica, gerou ecossistemas de adopção rápida pelos utilizadores.
E a onda vai continuar chegando a mais países, já que o Banco Central do Brasil anunciou, em novembro, que abrirá os protocolos Pix para replicar o código-fonte do sistema de pagamentos.
Martínez também destaca os esforços das empresas privadas para gerar sistemas de pagamento por conta. Ele cita como exemplos o MODO da Argentina e Yape do Peru, país onde o regulador estabeleceu a interoperabilidade das carteiras mais populares para este ano.
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Um espaço para cobrir: Social commerce
Além das iniciativas do governo, o uso da mídia social para o comércio digital também alimentou pagamentos alternativos baseados em contas. Segundo Martínez, há expectativa de crescimento nessa área para 2023, além de abrir oportunidades para fazer alianças.
“Essas plataformas sociais não possuem soluções de pagamento nativas. Então, aqui, transferências bancárias ou, por exemplo, P2P podem ganhar muito mercado”, diz.
“Pode até ser que as plataformas sociais invistam em ter soluções de pagamento e se integrar com soluções de pagamento”, acrescenta Martínez.
Na tentativa de aproveitar as informações e interações geradas pelas redes sociais, a Meta lançou o WhatsApp Pay no Brasil. O serviço teve um início difícil em maio de 2021 e, em fevereiro de 2022, apenas 17% dos usuários que usaram a plataforma de mensagens disseram ter registrado seu cartão de débito para fazer pagamentos, de acordo com um estudo da Mobile Time e da Opinion Box.
A partir do PayPal eles veem uma possível integração com as redes sociais como uma oportunidade para gerenciar o pagamento do comércio gerado em suas plataformas.
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Criptomoeda à vista, mas sem implementação
Ambos os porta-vozes confirmam que a adoção de criptomoedas é algo que estão acompanhando de perto, mas que sua implementação ainda está longe para a América Latina. A falta de regulamentação e a volatilidade dessas moedas são as principais barreiras para EBANX e PayPal implantarem o serviço.
“Estamos continuamente avaliando se conseguiremos implantar ou expandir esta solução para a América Latina, não é fato que o faremos em 2023, potencialmente poderá ser nos anos seguintes. Seria a longo prazo”, afirma Martínez, do PayPal.
O inverno cripto de 2022, culminado com a falência da FTX, minou a credibilidade das criptomoedas. No entanto, o uso desses ativos tornou-se um meio de se refugiar em contextos de inflação, como é o caso da Argentina, segundo estudo publicado em 2022 pela Rapyd, processadora de pagamentos com presença regional.
“Na verdade, não há região no mundo onde os consumidores sejam mais proscritos do que os latino-americanos. Temos alguns números relevantes: um em cada três latino-americanos tem um criptoativo. […] Por isso é importante acompanhá-lo de perto”, conclui Etcheverry.